O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou neste sábado (15.jun.2024) a falta de dedicação em Brasília para “coisas sérias”. Em meio à relação turbulenta com o Congresso, ele participou neste sábado (15.jun.2024) da conferência “Despertar Empreendedor”, organizada pelo Instituto Conhecimento Liberta.
“Quando vamos para Brasília, não dialogamos com o serviço público propriamente dito. Vamos nos defender do que está acontecendo. A todo momento você fica apreensivo. Que lei vão aprovar? O que vamos fazer? Que maluquice é essa? Por que não se dedicam a coisas sérias que vão mudar a vida das pessoas? Para quê essa espuma toda?”, disse Haddad.
O ministro da Fazenda disse também que o Brasil é uma “encrenca” e difícil de administrar. “Às vezes, quem está numa posição de poder não está fazendo a coisa certa pelo país. Isso é a coisa mais triste da vida pública”, declarou.
Haddad teve uma semana de derrota no Congresso. O governo editou a MP 1.227 de 2024 em 4 de junho para compensar as perdas com a manutenção da desoneração da folha de pagamento a empresas de 17 setores e de municípios com até 156,2 mil habitantes. O texto foi devolvido pelo Congresso na 3ª feira (11.jun).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na 5ª feira (13.jun.2024) que o governo está disposto a ouvir as propostas dos senadores para compensar os benefícios fiscais.
SUSTENTABILIDADE
Haddad declarou que o Brasil “não precisa ser quintal de ninguém” e que tem condições para ter importância internacional e desenvolvimento econômico. Afirmou que o país tem metade do território, PIB (Produto Interno Bruto) e população da América Latina.
Segundo o ministro, o país tem que ser parceiro da Europa, Estados Unidos e Ásia. “O Brasil tem condições de ser uma potência sócio ambiental que se desenvolve num padrão novo. O Brasil tem quase 90% da sua matriz elétrica limpa. A média da OCDE é 1/3 disso. Se você pegar a matriz energética, para além da elétrica, nós temos 50% matriz limpa. É 3 vezes a média mundial”, disse.
Haddad defendeu que é preciso se prevenir e começar a fazer a “lição de casa”. De acordo com Haddad, não há outro investimento possível no mundo atual que não seja sustentável. Disse que as barreiras protecionistas de caráter ambiental estão aumentando no mundo, e que o Brasil precisa se adaptar a isso.
“O mundo está mais protecionista e um dos pretextos que o mundo desenvolvido está utilizando para não importar da gente cada vez mais vai ser: como é que esse produto foi feito? Foi feito com energia limpa? Foi feito de forma sustentável?”, disse. “É assim que, por esperteza ou não, o mundo desenvolvido vai se proteger das exportações brasileiras”, completou.
25 DE MARÇO
Haddad disse que não troca sua experiência como pequeno empreendedor na 25 de março por nenhum diploma da USP (Universidade de São Paulo). Haddad é graduado em direito, com mestrado em economia e doutorado em filosofia.
O ministro disse que seu pai, o libanês Khalil Haddad, veio para o Brasil com 24 anos. Segundo o ministro, Khalil era agricultor, semianalfabeto e comerciante. Haddad afirmou que ajudou seu pai na loja durante quase duas décadas.
O ministro declarou que Khalil teve uma “montanha-russa” e de “altos e baixos” na vida de pequeno empresário.
“Eu sempre [estava] ajudando. Paralelamente, eu gostava de estudar muito. Gosto até hoje”, disse. “Enquanto eu trabalhava na loja do meu pai e na construtora do meu cunhado, que eram pequenas empresas, eu fiz direito, economia e filosofia na Universidade de São Paulo”, completou.
O ministro da Fazenda declarou que os estudos possibilitaram a sua entrada na política, mas que não troca sua experiência na 25 de Março por nenhum de seus diplomas na USP.
“Eu fiquei 18 anos atrás de um balcão. Não são 2 ou 3 anos. […] Nós éramos pequenos atacadistas. Eu convivia com o Brasil inteiro lá na loja […] O Brasil e a América Latina estão lá. Foi um período muito rico da minha vida de aprendizado, de aprender a lidar e respeitar as pessoas. Isso não se aprende na faculdade e nas escolas”, disse Haddad.
O ministro declarou que, durante a infância, nunca teve “tempo de ser menino”. Afirmou que, também como funcionário público, precisa abrir mão de tempo de lazer com a família e remuneração. “Lá [em Brasília] não deveria ser um lugar para ganhar dinheiro”, disse.