A transição energética no Brasil precisará priorizar a segurança energética e a acessibilidade de energia às camadas mais pobres. É o que defendem especialistas do setor, que pregam um equilíbrio entre a sustentabilidade das fontes renováveis com a confiabilidade da energia fóssil.
Para Adriano Pires, sócio do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), o setor de energia não pode ser polarizado entre um “Fla Flu de energias renováveis contra energias fósseis”. Ele criticou a demonização das fontes fósseis, como o petróleo, o gás natural e o carvão.
“Com a pandemia e a guerra da Rússia e Ucrânia, vimos que não dá para fazer transição energética sem combustível fóssil. O grande desafio é fazer uma transição com sustentabilidade, mas com segurança energética e acessibilidade para as pessoas mais vulneráveis”, afirmou Pires.
As declarações foram dadas durante o seminário “A segurança energética, o Estado e a sociedade”, realizado pelo Instituto Pensar Energia em Brasília. O encontro debate a mudança de tributação proposta na reforma para bens minerais extraídos e como ela impactará a cadeia produtiva de energia. A gravação do evento ficará disponível no canal do Poder360 no YouTube.
No seminário, Pires defendeu a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Declarou que o país não pode abrir mão de nenhuma fonte de energia no momento e lembrou que o consumo de energia tem aumentado no país e no mundo, puxado por novas tecnologias como IA e armazenamento em nuvem.
“O Brasil pode ser um grande protagonista na transição energética, por ter uma diversidade de fontes energéticas muito grande. E a maioria delas é renovável. Temos que aproveitar isso de maneira inteligente. Não dá para abrir mão de nenhuma fonte de energia. O planejamento precisa olhar o atributo de cada energia, e não somente o preço”, disse.
De acordo com Xisto Vieira, CEO da Abraget (Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas), o Brasil precisa zelar pela confiabilidade elétrica e energética na sua matriz. Apesar de parecidos, os 2 conceitos são diferentes.
- confiabilidade energética – se dá, por exemplo, quando os reservatórios das hidrelétricas ficam vazios e não conseguem encher com as chuvas, sendo preciso que as térmicas gerem mais para as hidrelétricas poderem acumular água nos reservatórios. Foi o caso das crises hídricas de 2001, 2014 e 2021;
- confiabilidade elétrica – quando setores do sistema elétrico não têm pontos de tensão adequados para dar segurança ao SIN, o que pode provocar instabilidade de tensão ou de frequência e derrubar o sistema, como em 15 de agosto de 2023, provocando um apagão nacional.
É nessas horas que o sistema precisa ter fontes firmes de geração na sua base para assegurar o fornecimento, como as usinas térmicas, nucleares e hidrelétricas com reservatórios. Xisto defendeu que o próximo leilão de reserva de capacidade, que será realizado pelo Ministério de Minas e Energia, priorize essas fontes.
“O leilão de confiabilidade não leva em conta a demanda do sistema. E sim o que é preciso para dar segurança ao sistema. Esses leilões entregam ao sistema confiabilidade elétrica e energética. As outras fontes de energia agora tentam entrar no leilão de confiabilidade, o que seria muito desastroso”, afirmou.
Lino Cançado, diretor-presidente da Eneva, afirmou que as fontes renováveis, como eólica e solar, são sazonais e intermitentes. Ou seja, não garantem energia sempre. Como reflexo disso, quanto mais usinas renováveis são inseridas no sistema elétrico, maior a instabilidade e menor e a confiabilidade dele.
“Foi pensando nisso que foram criados os leilões de reserva de capacidade na forma de potência, para dar essa confiabilidade. Tivemos um em 2021 e agora precisamos ter outro. Isso será necessário para assegurar o sistema a partir de 2027, o que já é tempo extremamente exíguo para implantar projetos de geração”, disse.
SOBRE O SEMINÁRIO
Para Marcos Cintra, presidente do Instituto Pensar Energia, o seminário é uma chance de mostrar que é não é possível ampliar o uso de fontes renováveis sem um sistema de energia firme, que assegure o funcionamento em caso de intercorrências climáticas. “É como se quiséssemos antecipar algo que tecnicamente não está disponível. Parece que estamos abdicando de tudo que construímos e aceitando a ideia de que devemos parar de explorar o petróleo e gás”, disse.
Outro tema de destaque é o potencial de exploração de petróleo na Margem Equatorial. As pesquisas na área ainda precisam de licença do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). A região compreende toda a faixa litorânea ao norte do país. Tem esse nome por estar próxima da Linha do Equador. Começa na Guiana e se estende até o Rio Grande do Norte.
A porção brasileira é dividida em 5 bacias sedimentares:
- Foz do Amazonas, localizada nos Estados do Amapá e do Pará;
- Pará-Maranhão, localizada no Pará e no Maranhão;
- Barreirinhas, localizada no Maranhão;
- Ceará, localizada no Piauí e Ceará; e
- Potiguar, localizada no Rio Grande do Norte.
O seminário “A segurança energética, o Estado e a sociedade” é dividido em 2 painéis:
Painel 1 – “Transição energética, reforma tributária e sociedade: o caso do Imposto Seletivo”
- Augusto Coutinho (Republicanos-PE), deputado federal;
- Reginaldo Lopes (PT-MG), deputado federal;
- Moses Rodrigues (União Brasil-CE), deputado federal;
- Joaquim Passarinho (PL-PA), deputado federal
- Filipe Barros (PL-PR), deputado federal;
- José Roberto Afonso, economista e professor do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa); e
- Bráulio Borges, economista-sênior da área de Macroeconomia da LCA Consultoria Econômica e pesquisador-associado do FGV-Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Moderador: Felipe Fernandes Reis, advogado e secretário-geral do Instituto Pensar Energia.
Painel 2 – “Uma estratégia de transição energética segura e justa: o papel do Estado”
- Xisto Vieira, CEO da Abraget (Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas);
- Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura); e
- Aldo Rebelo, secretário de Relações Internacionais do município de São Paulo, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex-ministro da Defesa, do Esporte, de Relações Institucionais e da Ciência e Tecnologia e Inovação.