O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse estar disposto a sentar com o governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) para dicutir a PEC (proposta de emenda à Constituição) que amplia a autonomia da autoridade monetária. Segundo ele, é preciso costurar um acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“A PEC foi um trabalho que o BC apoiou. Vários diretores participaram do projeto. Tanto o BC como o Senado estão muito abertos para discutir com o governo” afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste domingo (3.mar.2024). “A gente precisa entender se tem alguma coisa que incomoda [o governo] no âmbito da governança. Temos muito espaço de manobra para acertar isso”, completou.
Campos Neto disse entender que a PEC é “um início de debate, um esqueleto”. Para ele, o texto pode ser mudado e aprimorado. “A nossa ideia é ter um texto que o governo apoie, que o Senado entenda que é um texto bom, e que seja bom para o Banco Central”, declarou.
Campos Neto e Haddad se reuniram na última semana. Conforme o presidente do BC, a conversa foi “muito boa”. Ele disse: “Expliquei para ele o que estava acontecendo no BC, no detalhe, e qual era a minha preocupação. Eu tentei dar conforto para ele, que o BC tem flexibilidade, que a gente pode discutir, que nada vai ser feito à revelia”.
Segundo Campos Neto, “é importante o governo estar de acordo” com a proposta, que “é um avanço institucional para o Brasil” e coloca o BC e o país “em um nível superior”.
Questionado sobre a relação conturbada com Lula em 2023, Campos Neto disse: “Foi uma experiência nova para todo mundo. Para um governo que já tinha sido governo e que estava acostumado a ter o poder da nomeação do BC. Para mim também, que de repente estava trabalhando para um governo que não foi o que me indicou. Esse é o espírito da autonomia”.