Criminalizar crianças e mulheres por estupro é “desumano”, diz Tebet

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, criticou nesta sábado (15.jun.2024) a tentativa do Congresso Nacional em aprovar o “PL do estupro”. Disse que criminalizar e condenar crianças ou mulheres vítimas de estupros é “desumano”.

Ela utilizou o X (antigo Twitter) para criticar a aprovação da urgência de votação do PL (projeto de lei) 1.904 de 2024.

“Criminalizar e condenar crianças ou mulheres que interrompem a gravidez, especialmente quando estupradas, com até 20 anos de cadeia (pena maior que a de estupradores e pedófilos), além de desumano, é uma ação criminosa da política, que deveria protegê-las”, disse Tebet.

A ministra declarou que ser contra o aborto não pode significar defender o projeto. Defendeu ainda que só as mulheres e crianças pobres não têm acesso à saúde públicas antes das 22 semanas de gravidez.

“Não se iludam. Esta cruzada por pautas sensacionalistas está apenas começando, porque o que muitos querem é acabar com os casos permitidos por lei (estupro, risco à mulher e anencéfalos). Gritem nas suas redes. #NÃO, NÃO e NÃO”, declarou Tebet.

ANTIABORTO

A Câmara dos Deputados aprovou, em votação relâmpago na 4ª feira (12.jun), um requerimento de urgência para o projeto,A que equipara o aborto acima das 22 semanas ao crime de homicídio. Sem ser anunciada, a votação se deu em 23 segundos.

Atualmente, o aborto pode ser feito nos casos de abortos previstos em lei, caracterizados pelas 3 situações:

  • caso de risco a vida da mãe;
  • casos de estupro; e
  • gestão de feto anencéfalo.

No entanto, nos 3 casos não há limite de idade gestacional para interromper a gravidez.

Com a urgência aprovada, a proposta poderá ser votada diretamente pelo plenário, não precisando ser discutida nas comissões temáticas da Casa Baixa.

O autor do texto é o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). A relatoria do texto deve ficar sob responsabilidade de uma deputada do Centrão, grupo de partidos sem coloração ideológica clara.

DADOS DE ABUSO SEXUAL NO BRASIL

O projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados fixa que mulheres sejam penalizadas com uma pena de até 20 anos de prisão, enquanto, em casos de estupro, a pena é de até 10 anos de reclusão na atual legislação.

Segundo dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, em 2022, o Brasil teve o maior número de registros de estupro e estupro de vulnerável da história, com 74.930 vítimas. Eis a íntegra do estudo (PDF – 10 MB).

Os casos de estupro de vulnerável têm um total de 56.820 vítimas, o que significa que 75,8% das vítimas eram incapazes de consentir, seja pela idade (menores de 14 anos) por outros motivos (por exemplo, deficiência e enfermidade).

No Brasil, 6 em cada 10 vítimas são vulneráveis com idades de 0 a 13 anos. Na maior parte dos casos, os abusadores são familiares ou conhecidos das vítimas, um fator que dificulta a denúncia, segundo o estudo.

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