Lula usa visita a Guiana e Caribe para modular discurso sobre Israel

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou sua 2ª viagem internacional de 2024 para reposicionar seu discurso sobre o conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas na Faixa de Gaza e para aumentar sua influência na América Latina, especialmente em relação à Venezuela.

O chefe do Executivo brasileiro participou como convidado de honra da cúpula de chefes de Governo da Caricom (Comunidade do Caribe), realizada em Georgetown, na Guiana, na 4ª feira (28.fev.2024). Depois, o presidente seguiu para Kingstown, em São Vicente e Granadinas, no Caribe, onde participou na 6ª feira (1º.mar.2024) da 8ª cúpula de chefes de Estado da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Em 18 de fevereiro, quando estava em Adis Abeba (Etiópia), Lula comparou a operação militar de Israel na Faixa de Gaza com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Alemanha nazista. Disse que os palestinos estavam sendo alvo de um “genocídio”. O chefe do Executivo brasileiro foi duramente criticado pelo governo israelense e por entidades judaicas no Brasil.

Em discurso na Guiana na última viagem, Lula moderou a fala e repetiu que os palestinos estão sendo vítimas de um genocídio: “Um genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a humanidade porque questiona o nosso próprio senso de humanidade. E confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à fome na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe”.

Ao lado do presidente da Guiana, na 5ª feira (29.fev), o petista pediu paz na América do Sul. Sem citar a tensão entre guianenses e venezuelanos pela disputa da região de Essequibo, criticou os conflitos armados pelo mundo e disse que o continente sul-americano deve seguir sendo uma zona pacífica no planeta.

Mesmo ainda mantendo o tom duro e crítico ao conflito em Gaza, Lula recorreu a órgãos multilaterais, como a Celac e à ONU (Organização das Nações Unidas), para pedir que os ataques cessem.

O petista solicitou que os 5 integrantes permanentes do Conselho de Segurança da ONU coloquem um fim na “matança” de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza: “Já são mais de 30.000 mortos. As vidas de milhares de mulheres e crianças inocentes estão em jogo. As vidas dos reféns do Hamas também estão em jogo. Eu quero terminar dizendo para vocês que a nossa dignidade e humanidade estão em jogo. Por isso é preciso parar a carnificina em nome da sobrevivência da humanidade, que precisa de muito humanismo”, declarou.

Influência na América Latina

Com a viagem para participar de duas cúpulas regionais, o presidente brasileiro tinha o objetivo de ampliar sua influência na região, especialmente em relação à Venezuela. Lula se colocou como principal mediador da tensão entre o país comandado por Nicolás Maduro e a Guiana, presidida por Irfaan Ali, na disputa pela região de Essequibo, rica em petróleo ainda a ser explorado.

Lula se reuniu com os 2 presidentes na última semana, mas não discutiu a questão diretamente. Tenta evitar tomar alguma posição que possa escalar a tensão. Por isso, informou ter tratado apenas de temas da relação entre o Brasil e os países vizinhos.

Após o encontro com Ali, na 5ª feira (29.fev), o chefe do Executivo brasileiro foi questionado por jornalistas sobre a disputa. “Veja, nós não discutimos a questão de Essequibo. Não discutimos. Por que não discutimos? Porque não é momento de discutir. Era uma reunião bilateral para discutir desenvolvimento, discutir investimento. Mas o presidente Irfaan sabe, como sabe o presidente [Nicolás] Maduro [presidente da Venezuela], que o Brasil está disposto a conversar com eles a hora que for necessário, quando for necessário. Porque queremos convencer as pessoas de que é possível, através de muito diálogo, a gente encontrar a manutenção da paz”, declarou.

No encontro com Maduro, na 6ª feira, Lula ouviu do líder venezuelano que o país realizará eleições no 2º semestre deste ano. Relatou ter fechado um acordo com partidos da oposição na Assembleia Nacional e que haverá autorização para que observadores internacionais possam acompanhar o pleito, além da realização de auditorias das votações.

Há, porém, dúvidas sobre a legitimidade das eleições pois adversários políticos foram recentemente presos ou impedidos de disputar por decisão judicial.

Os recentes acontecimentos ferem um acordo firmado entre Maduro e a oposição assinado em outubro de 2023 em Barbados (Caribe). Na ocasião, participaram do encontro representantes de Brasil, Estados Unidos, México, Holanda, Rússia e Colômbia. O trato determinou a realização de eleições livres, justas e transparentes, com a participação de observadores internacionais, atualização dos registros eleitorais e liberdade de imprensa.

O governo brasileiro tem reiterado os pedidos a Maduro para que o pleito seja realizado seguindo os parâmetros estabelecidos em Barbados. Lula externou o posicionamento no encontro.

Integração regional

Em discurso na Caricom, na 4ª feira, o presidente brasileiro defendeu a integração física entre os países da América do Sul como forma de desenvolver a região economicamente. Disse que uma das prioridades do seu 3º mandato é estabelecer a rota do Escudo Guianense com ligações entre a Guiana, o Suriname, a Venezuela e o Brasil.

“Queremos, literalmente, pavimentar nosso caminho até o Caribe. Abriremos corredores capazes de suprir as demandas de abastecimento e fortalecer a segurança alimentar da região. […] O Brasil pode oferecer gêneros alimentícios a preços competitivos. Mas também pode contribuir para ampliar a produtividade agrícola local”, disse o petista.

Os seguintes ministros também participaram do encontro:

  • Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos;
  • Renan Filho, ministro dos Transportes;
  • Simone Tebet, ministra do Planejamento;
  • Waldez Góes, ministro da Integração Regional.
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