IA usada na USP pode mudar produção de laudos de exames no Brasil

O InovaHC (Núcleo de Inovação Tecnológica do HC) lançou no final de fevereiro o o Genial, 1º laboratório de Inteligência Artificial Generativa. A iniciativa é realizada em parceria com a AWS (Amazon Web Services). O projeto busca otimizar o tempo de produção de laudos de exames radiológicos com o uso de IA.

Segundo o professor Giovanni Cerri, diretor do InovaHC e do InRad (Instituto de Radiologia do HC) e ex-secretário de saúde do Estado de São Paulo, o laboratório foi criado para fomentar o estudo e pesquisas relacionadas às diferentes aplicações da inteligência artificial generativa na saúde. A 1ª aplicação do projeto será no InRad.

A ideia foi criar um ambiente, um laboratório colaborativo de inteligência artificial generativa voltado para a saúde para ver qual é o potencial da tecnologia na saúde. Nós queremos modernizar a emissão  de laudos, mudar a forma que se laudam os exames de imagem”, declarou Cerri ao Poder360.

Apesar do acelerado avanço tecnológico visto na área da saúde, a produção e emissão de laudos é a mesma há décadas, segundo o diretor. Assim, as equipes do HC e da Amazon enxergaram a possibilidade de atualizar o sistema e otimizar o tempo de emissão.

O GAL (Gerador Automatizado de Laudos) é um programa de IA para aperfeiçoar a emissão de laudos de exames. Hoje, somente o InRad emite 20.000 laudos por mês, enquanto todo o complexo do HC chega a emitir mais de 400 mil por ano. A tecnologia pode encurtar em até 30% o tempo de produção.

O projeto funcionará em 3 etapas, que são independentes entre si. A 1ª está prevista para entrar em funcionamento até o final de 2024. Segundo Cerri, cada uma tem o potencial de se tornar um produto independente no futuro.

Na fase de pré-laudo, o software levanta os antecedentes médicos do paciente, como cirurgias e comorbidades, e organiza as informações que são passadas ao radiologista. Atualmente, esse levantamento é manual e feito por cada radiologista. 

A ideia é que a IA possa fornecer ao radiologista um resumo dos fatos relevantes do prontuário do paciente”, declarou o diretor.

Com as informações, o programa inicia a 2ª fase, que é a de formatar o laudo. No modelo pré-estabelecido, o sistema de IA organiza as informações e as imagens que são depois revisadas pelo médico.

O objetivo é aumentar a eficiência, fazer com que o radiologista aumente sua produtividade se concentrando na interpretação do laudo”, afirmou Cerri.

No pós-laudo, o GAL emitirá duas versões do diagnóstico. Uma, com a linguagem técnica e tradicional a estes documentos, e, a outra, explicativa e mais didática, voltada para o entendimento do paciente.

Nós encaminhamos o laudo para o médico, mas hoje em dia o paciente também lê o laudo. Muitas vezes ele não entende por ser muito técnico. Nós pensamos que o laudo final deveria ter uma linguagem destinada ao médico e outra, mais explicativa, para o paciente”, disse o diretor.

A IA vai ajudar a apontar alterações que o radiologista tem que prestar atenção e que despenda mais tempo na análise e diagnóstico das imagens”, declarou Cerri.

Escalabilidade 

O laboratório no HC é o 1º projeto de IA generativa voltada para a saúde da AWS na América Latina. O diretor-geral da Amazon Web Services, Paulo Cunha, disse durante o lançamento que a iniciativa tem alto potencial de escalabilidade.

Hoje, é a 1ª reunião nacional porque a próxima será internacional. Aqui não vamos pensar pequeno”, declarou o empresário.

Questionado sobre a fala, Giovanni Cerri, diretor do InovaHC, concordou. O médico afirmou que grande parte dos laudos emitidos no Brasil seguem o padrão estabelecido pelo InRad. O instituto é o maior centro de formação em radiologia do Brasil e da América Latina e está entre os 50 melhores do mundo, segundo o EduRank.

O que nós vemos hoje é que os laudos do InRad que foram elaborados décadas atrás são laudos extremamente usados no país inteiro. A partir do momento em que for criado um novo modelo, ele também será adotado de forma ampla no país inteiro, não tenho dúvida disso”, disse Cerri.

A entrada e circulação de médicos de outros países da América do Sul possibilita que o novo modelo seja adotado em diferentes localidades. Paulo Cunha declarou que a AWS não terá nenhum tipo de patente sobre a tecnologia.

Segurança da informação & futuro do trabalho

A base de dados que alimenta a inteligência artificial usada pelo Genial é própria do HC. Durante a entrevista, o Cerri disse considerar uma fonte “vasta e suficiente” para rodar o projeto. Todas as informações usadas e disponibilizadas pela tecnologia são criptografadas, assegurando a segurança e o sigilo do paciente, segundo o diretor.

Questionado sobre a entrada da tecnologia e do seu impacto na função do radiologista, Cerri declarou que a função do projeto é otimizar o papel do radiologista.

Foi dito há décadas que a formação de radiologistas deveria ser suspensa porque seriam substituídos em poucos anos. O que nós vemos é que isso é improcedente. Na verdade, hoje nós identificamos a IA como uma ferramenta de trabalho, algo que vai ajudar o radiologista a aumentar a eficiência e ser mais preciso. Tudo em benefício do doente”, declarou o diretor.

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