Um Tribunal no Chile determinou esta semana que o Google revise sua proposta para a construção de um centro de processamento de dados em Santiago, considerando cuidadosamente os possíveis impactos que sua operação poderia ter no país, especialmente em relação aos recursos hídricos.
A decisão, anunciada na 3ª feira (27.fev.2024), anula parcialmente a aprovação prévia concedida ao projeto Cerrillos pelo SEA (Serviço de Avaliação Ambiental do Chile). O Tribunal concluiu que a agência não conduziu uma avaliação adequada do efeito que a iniciativa teria sobre o aquífero central da capital chilena.
O Google submeteu seu pedido para o projeto em julho de 2019. Embora tenha recebido aprovação da SEA em fevereiro de 2020, encontrou oposição dos moradores locais. Eles argumentaram que o data center poderia piorar a seca no país, já que usaria água dos residentes para resfriar seus servidores.
A empresa de tecnologia anunciou mais tarde que iria adotar um sistema de resfriamento a ar. No entanto, o Tribunal determinou que a avaliação ambiental ainda era necessária, mesmo com as alterações propostas.
Nos últimos anos, o consumo de água pelas big techs aumentou significativamente devido à expansão da inteligência artificial. Segundo um estudo da Universidade da Califórnia, o uso intensivo de energia pelas ferramentas de IA requer maior refrigeração dos servidores, o que, por sua vez, demanda mais água. Estimativas indicam que cada 20 a 50 interações com o ChatGPT podem consumir aproximadamente meio litro de água.
Isso ocorre porque a maioria dos chatbots opera na computação em nuvem, que depende de servidores localizados em data centers. Esses servidores são utilizados para treinar os algoritmos responsáveis por realizar tarefas como responder às perguntas dos usuários.
“Apesar dos inúmeros benefícios e do potencial da IA, o impacto ambiental, especialmente em relação à pegada de carbono, tem sido alvo de escrutínio público. No entanto, a enorme pegada hídrica dos modelos de inteligência artificial – muitos milhões de litros de água doce retirados ou consumidos para geração de eletricidade e resfriamento dos servidores – tem passado largamente despercebida”, explicam os pesquisadores. Leia a íntegra do estudo (PDF – 742 kB, em inglês).
Os pesquisadores destacam que, embora 500 ml possa parecer insignificante, o impacto combinado é significativo, considerando o grande número de usuários que utilizam ferramentas de inteligência artificial ao redor do mundo.
Por exemplo, os pesquisadores afirmam que o treinamento do GPT-3 nos data centers da Microsoft nos EUA pode consumir 700 mil litros de água limpa. Eles também indicam que a demanda global por inteligência artificial pode resultar na retirada de 4,2 a 6,6 bilhões de metros cúbicos de água em 2027. A retirada de água refere-se à água doce retirada de fontes subterrâneas ou superficiais, de forma permanente ou temporária, e transportada para um local de uso.
Além disso, os cientistas preveem que modelos de IA mais complexos da próxima geração poderão consumir ainda mais água durante seu treinamento, mas a falta de informações no assunto impedem uma estimativa precisa.
De acordo com os últimos dados disponíveis, os centros de processamento próprios do Google retiraram diretamente 25 bilhões de litros e consumiram quase 20 bilhões de litros de água para resfriamento em 2022, sem considerar o uso de água em instalações de terceiros alugadas. A maioria dessa água foi potável.
O uso de água nos data centers do Google aumentou em 20% em relação a 2021, enquanto o da Microsoft teve um aumento ainda maior, de 34% no mesmo período. Esses aumentos consideráveis são parcialmente atribuídos à crescente demanda por inteligência artificial, dizem os pesquisadores.
Além disso, a retirada global combinada de água nos data centers do Google, Microsoft e Meta foi estimada em 2,2 bilhões de metros cúbicos em 2022, o equivalente ao total anual de retirada de água de 2 países como a Dinamarca. Nos EUA, essa retirada representou aproximadamente 0,33% do total anual de retirada de água do país, com 1,5 bilhão de metros cúbicos retirados.