As produtoras independentes de petróleo e gás natural devem dobrar ou até triplicar a produção no Brasil nos próximos 10 anos. É o que projeta Marcio Felix, presidente da Abpip (Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás). O segmento tem investido R$ 5 bilhões por ano para elevar a produção, atualmente de 250 mil barris/dia de óleo e gás.
Em entrevista ao Poder360, Felix afirma que as junior oils, como estão sendo chamadas as pequenas e médias petroleiras privadas, estão numa fase de consolidação com o encerramento do ciclo de venda de campos da Petrobras e os últimos leilões da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
O executivo, que foi secretário de Petróleo e Gás e secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia e atualmente também é CEO da EnP (Energy Platform), afirma que as petroleiras independentes estão passando por um movimento de fusões e aquisições de empresas.
Dentre os principais exemplos, está o da empresa sueca Maha Energy, que almeja uma fusão de ativos com as brasileiras 3R Petroleum e PetroReconcavo para unificar em uma só companhia os campos terrestres das 3, numa operação de 80.000 barris diários. Também há a proposta da Eneva para se fundir à Vibra (antiga BR Distribuidora).
“O que a gente vê agora é um movimento de consolidação, com processos de fusões e aquisições de empresas, para aumentar a competitividade desses ativos e conseguir produzir mais com o menor custo, compartilhando infraestrutura, seja de dutos, de tancagem ou terminais. Está se criando uma nova indústria no Brasil, mais forte e mais geograficamente distribuída”, diz.
Assista (4min47s):
Felix explica que essas empresas precisam investir constantemente, uma vez que a produção natural dos poços cai de 10% a 15% por ano. Para isso, essas companhias investem em duas frentes: para ampliar o fator de recuperação de óleo dos campos existentes e na exploração, visando descobrir novas áreas viáveis para produção comercial.
Com esses investimentos, a produção aumentou nos campos que foram vendidos pela Petrobras e agora estão sob operação das independentes. Em alguns casos, a produtividade dos poços cresceu 4 vezes, segundo a ANP.
“Se mostrou bastante positiva a transferência (de campos), especialmente porque a Petrobras tinha deixado de investir nessas áreas. Elas estavam em um declínio acentuado de produção. Então, o contraste existe não porque o independente é melhor do que a Petrobras, mas porque o apetite por essas áreas é muito maior”, disse.
A atuação das junior oils tem rendido resultados como a queda dos preços do gás natural em algumas localidades. Marcio Felix menciona os exemplos da Origem Energia, em Alagoas, e da PetroReconcavo e da 3R, no Rio Grande do Norte.
“Temos conseguido redução de preço de gás no Nordeste através da produção das independentes. São exemplos de aumento da competição que fez baixar o preço do gás para a companhia distribuidora e por consequência para os consumidores”.
O presidente da Abpip afirma que essas petroleiras estão preocupadas com a transição energética, mas não miram nas energias renováveis como tem feito a Petrobras. Ele cita projetos já anunciados de diferentes portes para captura de carbono e armazenamento de gás, além da descarbonização de operações priorizando o gás natural ao óleo diesel.
“Temos que lembrar que na Amazônia ainda tem muita geração de energia a óleo combustível e se substituirmos por gás estaremos fazendo uma transição energética, diminuindo a pegada de carbono. Tem várias formas de descarbonizar, como produzir mais com a mesma infraestrutura, sem necessariamente entrar em negócios de energias renováveis”, diz.
Assista à íntegra da entrevista (43min38s):