O diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 3ª feira (25.jun.2024) que há uma “coesão” entre os diretores do Copom (Comitê de Política Monetária). Defendeu o uso do Boletim Focus –o relatório da autoridade monetária que mostra projeções do mercado financeiro para a inflação e outras variáveis macroeconômicas.
Galípolo participou como palestrante do evento “A condução da Política Monetária em um ambiente mais adverso”, promovido pela Warren Investimentos. A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) deixou a porta aberta nesta 3ª feira (25.jun) para “ajustes futuros” na taxa básica, a Selic.
Assista:
Galípolo disse que o racha nos votos na reunião de maio não era uma divergência de diagnóstico da política monetária e que o “tempo ia jogar a favor do BC”. O diretor do BC declarou que se atém o máximo possível “à comunicação oficial” da autoridade monetária.
“Essa ata já é uma reafirmação e corroboração nesse sentido da coesão que a gente tem aqui dentro de visões e leituras sobre o que está acontecendo aqui dentro do BC”, disse.
SEM SINALIZAÇÃO CONCRETA
Disse que o BC optou por usar a palavra “interrupção” no corte da Selic, mas que não quer fazer “qualquer tipo de sinalização, commitment ou guidance” para frente. “[O BC] Pretende deixar aberta [a porta] para a gente ver como as coisas vão se desdobrar a partir de agora”, disse.
Galípolo declarou ainda que há preocupação entre os diretores do BC com a desancoragem das estimativas de inflação para a meta de 3%.
Falou que cabe ao governo eleito definir a meta, enquanto o BC é responsável por definir a taxa Selic para levar a inflação para o objetivo estabelecido.
“O que cabe ao Banco Central é, tendo aquilo que está na mão dele, reafirmar que, na política monetária, nem a política fiscal, nem outra coisa vai ser usado como pretexto para que a gente vá se desviar da perseguição da meta”, disse o diretor.
BOLETIM FOCUS
Uma das principais críticas feitas por governistas ao Banco Central é o uso das projeções do mercado financeiro para definir a taxa Selic. O instrumento utilizado é o Boletim Focus, divulgado semanalmente. Houve uma piora nas estimativas para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) antes da reunião do Copom de 4ª feira (19.jun.2024).
Galípolo declarou que o Focus é uma ferramenta “ultra relevante” e “muito importante” como conjunto de informação para guiar a política monetária.
“O Banco Central, na sua institucionalidade, sabe consumir o Focus”, declarou.
O diretor afirmou que as estimativas colaboram, porque são subsídios para a política monetária.
Galípolo declarou que o BC acentuou o “foco ao Focus” porque a desancoragem de expectativas era o elemento que mais incomodava, mas não há uma mudança sobre a forma como o BC utiliza o relatório.
Declarou que o Focus não é o único elemento que baseou o Copom a interromper o corte na Selic. Disse que houve mudança acentuada no cenário de câmbio. As estimativas aumentaram de R$ 4,95 para R$ 5,30 em 2024, segundo ele.
POLÍTICA MONETÁRIA
O Banco Central decidiu na 4ª feira (19.jun.2024) manter a taxa básica, a Selic, em 10,5% ao ano. A autoridade monetária interrompeu os cortes no juros-base apesar das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de aliados políticos.
A decisão do Copom–formado pelos diretores do BC– foi unânime. Lula indicou 4 integrantes ao colegiado, inclusive Galípolo, que é o maior cotado para a presidência do BC na saída de Roberto Campos Neto em dezembro de 2024.
Apesar das críticas de Lula, os 4 integrantes votaram por manter a taxa Selic em 10,5% ao ano. Governistas reclamaram da decisão do Banco Central. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a decisão como “vergonhosa” e disse que os 4 diretores indicados pelo governo Lula devem ter se sentido “acanhados com a pressão do mercado” para apoiar a manutenção da taxa.