Há “diálogo” entre os Poderes, diz Gilmar sobre porte de maconha

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes disse nesta 4ª feira (26.jun.2024) não considerar que a decisão da Corte de liberar o porte de maconha para uso pessoal aumente as tensões com o Congresso Nacional. Segundo o magistrado, há “diálogo” entre os Poderes. 

Na 3ª feira (25.jun), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), determinou a criação de uma comissão especial para analisar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45 de 2023, que criminaliza o porte e a posse de todas as drogas, em qualquer quantidade.

Gilmar Mendes está em Portugal. Ele é um dos organizadores do 12º Fórum Jurídico de Lisboa, realizado na capital portuguesa até 6ª feira (28.jun). Ao falar com jornalistas, afirmou que o entendimento do STF foi “racional”, “racionalizado” e “moderado”. 

Sobre o projeto em análise pelo Congresso, Gilmar declarou não haver “invasão” de competências. “O que nós estamos examinando é a constitucionalidade da lei, principalmente do artigo 28 da lei de drogas, em face da Constituição”, disse, acrescentando que o STF trata do tema das drogas como saúde pública. 

Haverá contribuições de todos. Há diálogo com o Executivo, há diálogo com o Legislativo. Não se trata de invasão de competências. Todos nós queremos o bem do país. Nós queremos, de fato, melhorar essa relação e evitar os abusos que se perpetuam nessa relação”, disse. 

Presente no evento, Lira disse haver uma maioria na Câmara dos Deputados que “se coloca razoavelmente favorável” à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45 de 2023, que criminaliza o porte e a posse de todas as drogas, em qualquer quantidade.

Em entrevista a jornalistas, o Poder360 questionou o presidente da Câmara se havia consenso para a aprovação do texto na Casa. Lira respondeu: “Não existe consenso na política para nada. O que existe, eu penso, é uma maioria que, hoje, se coloca razoavelmente favorável à PEC. Mas isso a gente só vai ver quando e se a PEC estiver pronta para ir para o Plenário”.


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“GILMARPALOOZA”

O 12º Fórum de Lisboa, promovido por Gilmar em Portugal, é uma tradição e foi batizado de “Gilmarpalooza” –junção dos nomes do decano e do festival de música Lollapalooza originado em Chicago (EUA) e cuja versão brasileira é realizada todos os anos em São Paulo com uma multitude de bandas de muitos lugares.

Anfitrião do evento lisboeta, Gilmar convidou todos os ministros do STF –que se dividiram:

A programação inicial contava com todos os ministros do STF. O documento oficial com todos os painéis do fórum e seus participantes havia sido publicado pelo Poder360 em 13 de junho. Depois da publicação, os organizadores do evento procuraram este jornal digital e disseram que se tratava de lista ainda preliminar e passível de alterações –embora não houvesse nenhuma ressalva no arquivo a respeito dessa possibilidade.

A seguir, os números atualizados do “Gilmarpalooza” –entre parênteses, o número de autoridades de cada esfera do poder que constavam na programação inicial:

  • 5 ministros do STF (eram 10);
  • 12 ministros do STJ (continuam sendo 12);
  • 2 ministros do TCU (eram 7);
  • 1 ministro do TSE (eram 5);
  • 5 ministros de Lula (eram 14);
  • 4 governadores de Estado (eram 9);
  • 5 senadores (eram 8);
  • Arthur Lira + 5 deputados (eram 7).

QUEM PAGA

O STF tem reiteradamente declarado que não paga os custos de viagens particulares de ministros, que são livres para aceitar convites para palestras e seminários. Não fica claro desta vez se cada autoridade presente no fórum pagará suas despesas ou se os organizadores vão bancar passagens, hospedagens e alimentação.

O que cabe à Corte é pagar pela segurança dos ministros, não importa onde estejam. Mesmo em caso de viagem para uma atividade privada, todos os 11 magistrados têm direito a ser acompanhados por algum agente policial.

Barroso havia dito em 10 de junho que há uma falta de compreensão” com as viagens dos ministros e que eles vivem encastelados”. Chamou de implicância as críticas a Toffoli, que foi para Londres assistir à final da Champions League e levou um segurança –ao custo de R$ 39.000.

Em 2021, o Poder360 mostrou que os magistrados do Supremo contavam com 32 seguranças em Brasília, 16 em São Paulo, 4 no Rio e 7 no Paraná. O custo anual era de R$ 7,9 milhões por ano. Atualmente, porém, os valores não estão claros no site do STF e não se sabe exatamente onde cada ministro esteve com seus seguranças.

No Brasil, os ministros da mais alta Corte do país não são obrigados a divulgar anualmente os relatórios de suas atividades privadas, diferentemente do que é feito nos Estados Unidos (entenda neste texto).

Os magistrados da Suprema Corte dos EUA têm sido pressionados sobre a relação mantida com a iniciativa privada. Editoriais de jornais norte-americanos e a sociedade civil têm sido críticos sobre como os magistrados atuam em atividades privadas. Há um sentimento crescente sobre a atuação dos juízes poder representar conflito de interesses.

QUEM ORGANIZA O FÓRUM

O tema do fórum de 2024 é “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”.

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