No Dia Nacional do Diabetes, comemorado na 4ª feira (26.jun.2024), o cardiologista Flávio Cure, integrante da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Europeia de Cardiologia, chamou a atenção para complicações cardiovasculares que o diabetes não controlado com medicamentos, atividade física e alimentação saudável pode causar.
Entre elas, citou hipertensão, infarto do miocárdio, angina de peito, acidente vascular cerebral e aneurisma vascular.
O diabetes mellitus é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina no organismo ou de sua incapacidade de exercer adequadamente seus efeitos, causando altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma permanente. Muitas pessoas desconhecem que têm diabetes porque os sintomas dessa doença muitas vezes passam despercebidos.
Por isso, Cure, também coordenador do Centro de Estudos do Hospital CopaStar da Rede D’Or, recomendou que as pessoas façam check-ups periódicos com clínico geral, que fará a triagem do paciente.
“Todo mundo deve fazer. Um sintoma do diabetes que é muito frequente e que, às vezes, passa despercebido, é que a pessoa começa a ficar com mais sede e urinar mais. Na maioria das vezes, em sua fase inicial, o diabetes tipo 2 é assintomático”, disse o cardiologista à Agência Brasil.
Além de sede frequente e vontade de urinar diversas vezes, os sintomas do diabetes incluem cansaço crônico e falta de energia para atividades corriqueiras, de acordo com a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
“Em homens e mulheres diabéticos, a incidência de infarto agudo do miocárdio e AVC é semelhante, mas representa o dobro quando comparada a pessoas sem diabetes. Em mulheres, o quadro tende a ser mais grave, com maior mortalidade”, disse Cure.
Segundo o Atlas do Diabetes da IDF (Federação Internacional de Diabetes, em português), o Brasil é o 5º país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos de 20 a 79 anos.
Está atrás só de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5 milhões.
Dados da Federação Internacional de Diabetes mostram que até 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 morrem por causas relacionadas a problemas cardíacos. Em nível global, os índices superam as mortes decorrentes de HIV, tuberculose e câncer de mama.
Flávio Cure afirmou que pacientes com diabetes podem evitar o risco de infarto controlando os fatores de risco, “tentando normalizar o nível de glicose, controlando o nível de colesterol, fazendo exercícios”. Também orientou a eliminar o hábito de fumar.
Nas pessoas diabéticas, a neuropatia autonômica, disfunção que afeta o sistema nervoso simpático e parassimpático, pode causar síncopes, ou seja, desmaios. Outro problema importante é o AVC (acidente vascular cerebral) que, no diabético, pode ser confundido com uma hipoglicemia.
“A pessoa fica confusa, com mal estar. Mas a hipoglicemia responde rapidamente à reposição de açúcar e a pessoa volta ao normal”, afirmou o especialista.
Cure advertiu ainda para a insuficiência vascular periférica, quando artérias que nutrem os membros inferiores são obstruídas, levando à gangrena e a amputações dos membros inferiores.
“Dá problema vascular, os vasos ficam ruins, o sangue não circula, dá gangrena e tem que tirar (o membro). Mas, hoje em dia, se a pessoa se cuidar, não chega a isso.”
O cardiologista falou sobre a importância do paciente com diabetes controlar o peso, diminuir o ingesto de carboidratos, exercitar o máximo possível e procurar o médico periodicamente.
Saúde renal
O presidente da Sonerj (Sociedade de Nefrologia do Rio de Janeiro), Pedro Tulio Rocha, nefrologista do Hospital São Lucas Copacabana, afirmou que o aumento dos níveis de açúcar no sangue afeta o organismo de uma forma sistêmica, sobrecarregando, principalmente, os rins.
Tanto que é uma das principais causas de doença renal crônica e, por consequência, de transplante desse órgão. Segundo o último Censo Brasileiro de Diálise, de 2023, publicado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, 32% dos pacientes em diálise têm diabetes.
O doutor Pedro Tulio Rocha afirmou à Agência Brasil que o diabetes afeta o rim por uma série de fatores.
“A glicose em excesso é filtrada pelos rins e é lesiva às células dos túbulos renais e glomérulo (principal unidade de filtração do rim). O diabetes aumenta a deposição de colesterol nas paredes dos vasos. Esse processo é chamado de aterosclerose e o rim, por ser um órgão muito vascularizado, sofre com isto.“
Citou que existem também efeitos do diabetes em outros órgãos, como o coração e o fígado, que podem levar a consequências danosas para os rins.
A longo prazo, pode desenvolver doença renal pelo diabetes, levando à doença renal crônica.
O presidente da Sonerj afirmou que o diabetes, junto com a hipertensão, são as principais doenças que levam à necessidade de diálise. Mencionou ainda que pode ser observada lesão renal no pré-diabetes, porém, a progressão para doença renal mais avançada se dá com a presença do diabetes já estabelecido.
Estudo
Estudo publicado recentemente no British Journal of Sports Medicine mostra que pessoas que praticam mais exercícios, de intensidade moderada a vigorosa, têm menor probabilidade de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, principalmente aquelas com alto risco genético.
Integrante da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a doutora Rosita Fontes afirmou que a prática de atividades físicas previne e controla os níveis de açúcar quando os músculos estão trabalhando, ou seja, usando a glicose do sangue para produzir energia.
Em consequência, a insulina que o corpo fabrica age melhor e as taxas de glicemia diminuem.
A especialista disse que o exercício físico é sempre saudável, mesmo para quem não pode praticá-lo por períodos mais longos e para quem não emprega tanta intensidade durante a atividade, pois existe o benefício da prevenção do diabetes.
Ela recomenda que, para sair do sedentarismo, o indicado é começar com exercícios leves e breves, como pequenas caminhadas, e ir aumentando gradativamente tanto a duração do exercício como sua intensidade.
Segundo a endocrinologista, o exercício físico também é essencial para quem já tem diabetes (do tipo 2 ou do tipo 1), porque ajuda a controlar a doença, potencializando o tratamento medicamentoso.
A médica recomendou que antes de iniciar a prática de exercícios físicos, é importante que a pessoa consulte o médico, pois este poderá avaliar, em função das condições físicas do paciente, do peso e de doenças existentes, como poderá se beneficiar das atividades, em que grau elas podem ser praticadas e durante quanto tempo por dia.
Rosita Fontes informou que o diabetes tipo 2 é aquele no qual o pâncreas produz insulina, às vezes até em quantidades aumentadas, mas ela não é adequadamente aproveitada pelo corpo.
É o tipo mais frequente, que corresponde a 90% dos casos, com maior incidência em adultos. Já o diabetes tipo 1 costuma ser registrada em pessoas mais jovens; o organismo não consegue produzir a insulina necessária para funcionar adequadamente.
Com informações da Agência Brasil.