O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 5ª feira (15.fev.2024) que Israel descumpre decisões tomadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e por outros órgãos multilaterais sobre a reação bélica ao grupo extremista Hamas na Faixa de Gaza. O chefe do Executivo disse que as Nações Unidas “não têm forças suficientes” atualmente para evitar guerras e defendeu, mais uma vez, a reforma dos órgãos multilaterais internacionais.
“A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas me parece que Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas”, disse Lula. O presidente deu a declaração a jornalistas ao lado do presidente egípcio Abdul Fatah Khalil al-Sisi, durante a sua visita ao Egito.
O presidente brasileiro chegou ao país na 4ª feira (14.fev), no momento em que as tensões entre o país árabe e Israel aumentaram por causa da ameaça de ações militares israelenses no sul da Faixa de Gaza.
Embora a viagem marque os 100 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Egito, o conflito dominou as conversas do chefe do Executivo brasileiro. A região sul de Gaza abriga atualmente mais de 1 milhão de palestinos que se deslocaram de outras cidades destruídas pela guerra. É praticamente o último refúgio na região.
Lula voltou a dizer que considera o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 como um ato terrorista, mas disse que a reação israelense “não tem explicação” porque está matando mulheres e crianças em Gaza.
“O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e ao sequestro de centenas de pessoas e nós condenamos e chamamos o ato de terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”,disse.
Em sua fala, Lula disse que as instituições multilaterais globais, como a ONU, foram criadas para solucionar problemas entre países, mas não conseguem mais atuar nesse sentido.
“Nós temos a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que por mais que eu procure explicação, eu não encontro uma explicação porque a ONU não tem forças suficientes para evitar que essas guerras aconteçam, antecipando qualquer aventura. […] As últimas guerras que nós tivemos, como a invasão ao Iraque, não passou pelo Conselho de Segurança da ONU; a invasão à Líbia não passou pelo Conselho de Segurança da ONU; a Rússia não passou pelo Conselho de Segurança para fazer a guerra com a Ucrânia e o Conselho de Segurança não pode fazer nada na guerra entre Israel e Faixa de Gaza”, disse Lula.
O presidente brasileiro pediu apoio do Egito para promover mudanças na ONU. Esta é uma bandeira que Lula tem defendido desde o início de seu 3º mandato, mas que dificilmente logrará êxito.
“É preciso que o Conselho de Segurança da ONU tenha outros países participando, outros países da África, outros países da América Latina. É preciso que tenha uma nova geopolítica na ONU. É preciso acabar com o direito de veto dos países e é preciso que os membros do Conselho de Segurança sejam atores pacifistas e não atores que fomentam a guerra”, disse.
Lula agradeceu a al-Sisi pela ajuda do Egito na operação de retirada de 115 brasileiros e familiares que estavam na Faixa de Gaza. A única fronteira da região que tem saída para outro território que não o israelense é a passagem de Rafah, que dá para o Egito. Por isso, o Brasil precisou negociar com o governo egípcio que os brasileiros pudessem entrar no território do país para embarcar de volta ao Brasil.
“Eu não poderia deixar de começar toda a minha conversa agradecendo ao presidente al-Sisi pela solidariedade que ele teve em ajudar o Brasil a tirar os brasileiros e brasileiras que estavam na Faixa de Gaza”, disse.