O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, descartou um pedido de desculpas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre suas declarações em relação à atuação israelense na Faixa de Gaza. Segundo o diplomata, se o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está esperando as desculpas, “não vai receber”.
“Nós não temos nada por que nos desculpar. Quem tem que se desculpar é o Estado de Israel, perante a humanidade, perante o mundo, pelas barbaridades que acontecem”, disse em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada no sábado (24.fev.2024).
Amorim seguiu Lula e classificou a guerra contra o Hamas em Gaza como “genocídio” contra os palestinos. “Obviamente esse governo não quer que exista a Palestina, nem em Gaza, nem na Cisjordânia.”
“Atiraram bomba para matarem 100, porque talvez tenha uma pessoa do Hamas. Não sou eu que estou dizendo isso. Há uma medida cautelar da Corte Internacional de Justiça”, completou.
O diplomata também relativizou a comparação do conflito em Gaza com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Alemanha nazista, feita pelo presidente em 18 de fevereiro. “Claro que nada é comparável diretamente ao Holocausto pelo número, pela quantidade, por uma série de coisas. (…) Mas a essência é igual. Não vejo diferença”, disse.
Na avaliação de Amorim, as declarações de Lula ajudaram “a sacudir a opinião pública mundial”. E completou: “Fala-se muito de guerra do Israel com Hamas. Não é. É guerra de Israel com a Palestina”.
Tensão com Israel
A tensão entre os governos brasileiro e israelense se intensificou a partir de domingo (18.fev.2024), quando Lula disse que a operação militar israelense na Faixa de Gaza é comparável ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
Em reação, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a declaração do brasileiro cruzava “uma linha vermelha” e era “vergonhosa”. Coube ao ministro israelense Israel Katz manter o tom crítico e de cobrança por retratação nos dias seguintes em diversas publicações em suas redes sociais.
Na 6ª feira (23.fev), Lula voltou a dizer que o governo de Israel não faz só uma guerra contra os palestinos, mas comete genocídio na região. “Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio”, declarou o chefe do Executivo.
Essa foi a 1ª fala do petista em resposta às críticas feitas a ele pelo governo israelense na última semana. Assista (5min33s):
Leia a linha do tempo do episódio:
- 18.fev.2024 – Lula compara os ataques de Israel às ações de Hitler contra judeus;
- 18.fev.2024 – Benjamin Netanyahu critica Lula e classifica sua fala como “vergonhosa”;
- 19.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores de Israel declara Lula “persona non grata” e constrange publicamente embaixador do Brasil no país, Fred Meyer, ao levá-lo para o Museu do Holocausto de Jerusalém;
- 19.fev.2024 – Brasil chama embaixador Fred Meyer de volta ao país;
- 19.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores do Brasil diz em reunião com embaixador de Israel que Meyer foi humilhado;
- 19.fev.2024 – no Planalto, avaliação é a de que Lula não pedirá desculpas;
- 20.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores de Israel volta a pedir retratação de Lula e diz que fala do presidente é um “cuspe no rosto dos judeus brasileiros”;
- 21.fev.2024 – o chanceler posta vídeo com brasileira que estava na rave atacada pelo Hamas e acusa o Brasil de não ter dado tratamento adequado às famílias de brasileiros vítimas do ataque;
- 22.fev.2024 – Itamaraty responde à brasileira e diz que entrou em contato com as famílias e prestou a devida assistência;
- 23.fev.2024 – Lula volta a acusar Israel de genocídio: “Se isso não é genocídio, eu não sei o que é genocídio”;
- 23.fev.2024 – deputados da oposição abrem representação contra o presidente no Tribunal de Haia.