Thomas Friedman, jornalista e colunista do The New York Times, disse nesta 5ª feira (27.jun.2024) que a possibilidade de Donald Trump (Partido Republicano) ser eleito o próximo presidente dos Estados Unidos nas eleições de novembro é “muito real”.
Para ele, essa perspectiva é “muito preocupante”. Friedman participou de um painel no 2º dia do Fórum de Lisboa, evento que tem o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes como um dos organizadores.
“Uma das minhas regras enquanto jornalista é: sempre que você vê um elefante voando, não faça piada, faça anotações”, afirmou. “Donald Trump está, agora, à frente de Joe Biden [Partido Democrata] nas pesquisas”, continuou. “Depois de tudo o que aconteceu, depois de tudo o que ele [Trump] fez, isso é um elefante voando”.
Biden e Trump estarão frente a frente em um debate pela 1ª vez em 4 anos nesta 5ª feira (27.jun). O embate, uma reedição da disputa de 2020, é visto como crucial para os eleitores indecisos antes das eleições de novembro.
O atual presidente norte-americano entra no debate presidencial sem uma vantagem clara sobre seu oponente, com as pesquisas indicando um cenário de empate técnico em diversos estados decisivos —os chamados “swing states”. Isso pode levar o democrata a aproveitar os holofotes para adotar uma postura mais agressiva contra Trump nesta 5ª feira (27.jun).
O debate é realizado quase 1 mês depois de Trump ser considerado culpado de 34 acusações criminais em Nova York, tornando-se o 1º presidente dos EUA na história a ser condenado pela justiça comum.
Durante meses, Biden evitou atacar o republicano por seus processos criminais, temendo que isso pudesse ser interpretado como interferência política. No entanto, desde o veredito de Trump em 30 de maio, Biden não hesitou em chamá-lo de “criminoso condenado” que “perdeu o controle”.
Friedman é autor do livro “The World is Flat” e colunista de relações exteriores do New York Times. Já venceu 3 prêmios Pulitzer.
“Gilmarpalooza”
O 12º Fórum de Lisboa, promovido por Gilmar em Portugal, é uma tradição e foi batizado de “Gilmarpalooza” –junção dos nomes do decano e do festival de música Lollapalooza originado em Chicago (EUA) e cuja versão brasileira é realizada todos os anos em São Paulo com uma multitude de bandas de muitos lugares.
Anfitrião do evento lisboeta, Gilmar convidou todos os ministros do STF –que se dividiram:
- 5 recusaram – André Mendonça, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luiz Fux e Nunes Marques;
- 5 aceitaram – Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Flávio Dino e o presidente da Corte, Roberto Barroso.
A programação inicial contava com todos os ministros do STF. O documento oficial com todos os painéis do fórum e seus participantes havia sido publicado pelo Poder360 em 13 de junho. Depois da publicação, os organizadores do evento procuraram este jornal digital e disseram que se tratava de lista ainda preliminar e passível de alterações –embora não houvesse nenhuma ressalva no arquivo a respeito dessa possibilidade.
A seguir, os números atualizados do “Gilmarpalooza” –entre parênteses, o número de autoridades de cada esfera do poder que constavam na programação inicial:
- 5 ministros do STF (eram 10);
- 12 ministros do STJ (continuam sendo 12);
- 2 ministros do TCU (eram 7);
- 1 ministro do TSE (eram 5);
- 5 ministros de Lula (eram 14);
- 4 governadores de Estado (eram 9);
- 5 senadores (eram 8);
- Arthur Lira + 5 deputados (eram 7).
Quem paga
O STF tem reiteradamente declarado que não paga os custos de viagens particulares de ministros, que são livres para aceitar convites para palestras e seminários. Não fica claro desta vez se cada autoridade presente no fórum pagará suas despesas ou se os organizadores vão bancar passagens, hospedagens e alimentação.
O que cabe à Corte é pagar pela segurança dos ministros, não importa onde estejam. Mesmo em caso de viagem para uma atividade privada, todos os 11 magistrados têm direito a ser acompanhados por algum agente policial.
Barroso havia dito em 10 de junho que há uma “falta de compreensão” com as viagens dos ministros e que eles vivem “encastelados”. Chamou de “implicância” as críticas a Toffoli, que foi para Londres assistir à final da Champions League e levou um segurança –ao custo de R$ 39.000.
Em 2021, o Poder360 mostrou que os magistrados do Supremo contavam com 32 seguranças em Brasília, 16 em São Paulo, 4 no Rio e 7 no Paraná. O custo anual era de R$ 7,9 milhões por ano. Atualmente, porém, os valores não estão claros no site do STF e não se sabe exatamente onde cada ministro esteve com seus seguranças.
No Brasil, os ministros da mais alta Corte do país não são obrigados a divulgar anualmente os relatórios de suas atividades privadas, diferentemente do que é feito nos Estados Unidos (entenda neste texto).
Os magistrados da Suprema Corte dos EUA têm sido pressionados sobre a relação mantida com a iniciativa privada. Editoriais de jornais norte-americanos e a sociedade civil têm sido críticos sobre como os magistrados atuam em atividades privadas. Há um sentimento crescente sobre a atuação dos juízes poder representar conflito de interesses.
QUEM ORGANIZA O FÓRUM
- IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa) – fundado por Gilmar, Paulo Gonet Branco (procurador-geral da República) e Inocêncio Mártires Coelho (ex-procurador-geral da República);
- LPL (Lisbon Public Law), da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa;
- Centro de Inovação, Administração e Pesquisa do Judiciário, da FGV(Fundação Getulio Vargas).
O tema do fórum de 2024 é “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”.