Conversa com Haddad faz Lula mudar tom público sobre economia

Uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, refletiu em uma mudança de tom do petista em evento público nesta 4ª feira (3.jul.2024). Segundo apurou o Poder360, a conversa já surtiu efeito em acertar a comunicação do governo para evitar mais sobressaltos do mercado e a disparada do dólar, que pressiona a inflação.

O encontro, que não foi registrado na agenda oficial de ambos, foi realizado na volta de Lula a Brasília depois de uma viagem pelo Brasil em que concedeu entrevistas para rádios locais com críticas à autonomia BC (Banco Central), à taxa de juros, a Selic, e ao presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.

O movimento de Lula dá uma sobrevida a Haddad diante do mercado, ficando como “responsável” por “domar” as falas controversas do presidente e mostrar a importância dos cortes de gastos.

Em evento de lançamento do Plano Safra para a agricultura familiar horas depois, Lula citou preocupação com a inflação de alimentos, com uma política econômica sem sobressaltos e afirmou que seu governo tem “compromisso” com a “responsabilidade fiscal”.

“Aqui nesse governo a gente aplica o dinheiro que é necessário, a gente gasta com educação, com saúde, aquilo que é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá ele a risca”, disse.

Haddad, por sua vez, já havia dito na 2ª feira (1º.jul) que a disparada do dólar frente ao real foi “maior” do que a de países vizinhos nos últimos dias. Atribuiu a alta a “muitos ruídos”.

O ministro também defendeu uma melhor comunicação do governo para apresentar os resultados à sociedade.

“Precisa comunicar melhor os resultados econômicos que o país está atingindo. Por exemplo, tive hoje mais uma confirmação sobre atividade econômica e arrecadação de junho. Fechou hoje o mês de junho e ficou acima do previsto pela Receita Federal”, disse.

Lula fez questão de dizer que, se os incentivos à produção agrícola surtirem efeitos, não haverá mais inflação de alimentos e a política econômica “sem sobressaltos”.

“A gente vai ter uma política econômica que vai fazer esse país crescer, a gente vai continuar fazendo transferência de renda e a gente, ao mesmo tempo, vai continuar com a responsabilidade que nós sempre tivemos”, declarou.

Lula & o dólar

O dólar registrou na 3ª feira (2.jul) alta pelo 3º dia consecutivo. Em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador, na Bahia, Lula afirmou que a subida do dólar é um “ataque especulativo” e que há no Brasil um “jogo de interesses especulativo contra o real”.

O real foi a 5ª moeda que mais se desvalorizou no mundo em 2024, mostrou um levantamento do Poder360 com base em dados da Austin Rating. O presidente do BC disse na 5ª feira (27.jun.2024) que a alta do dólar está relacionada ao aumento da percepção de risco no Brasil. Defendeu que não há uma disfuncionalidade no mercado de câmbio e que, por isso, não houve intervenção da autoridade monetária.

Mais cedo nesta 4ª feira (3.jul), depois de conversar com Haddad, Lula evitou responder se espera que o BC intervenha no câmbio para conter a alta do dólar. Afirmou que ia falar de “arroz e feijão”. A brincadeira com jornalistas foi na chegada para o anúncio do Plano Safra para a agricultura familiar.

Assista ao momento (35s):

 

Em 1 ano e meio de mandato, o governo conseguiu aprovar projetos considerados importantes para a equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, mas sofreu ao menos 10 derrotas significativas, principalmente no campo ideológico, nas chamadas pautas de costume.

O ministro voltou a dizer nesta 4ª feira (3.jul) que o dólar vai se “acomodar”. A moeda norte-americana opera em queda de 2,03%, cotada a R$ 5,55, depois de fechar em R$ 5,67 na 3ª feira (2.jul).

Perguntado sobre uma possível intervenção do Banco Central no mercado cambial, Haddad disse que a diretoria do Banco Central tem autonomia para atuar como achar conveniente, e que não existe outra orientação.

Afirmou que o motivo para acreditar na queda do dólar é que o governo está “fazendo e entregando”. Ele declarou que medidas de corte de gastos serão apresentadas à imprensa depois que acertar os detalhes com o presidente.

Há um encontro hoje, às 16h30, no Palácio do Planalto, com ministros e nomes da área econômica para tratar sobre a alta do dólar e a revisão de gastos. Participam:

  • Rui Costa, ministro da Casa Civil;
  • Fernando Haddad, ministro da Fazenda;
  • Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento;
  • Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos;
  • Dario Durigan, secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan;
  • Bruno Moretti, secretário Especial de Análise Governamental da Casa Civil.
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