As sanções impostas a Rússia depois do início do conflito contra a Ucrânia, em 2022, se mostraram falhas e os dados econômicos indicam que a economia russa cresceu apesar das restrições. Um relatório produzido pelo governo da Ucrânia e dos Estados Unidos afirma que, em 2023, a Rússia conseguiu contornar as proibições e importar 90% do volume comercial de bens militares anterior ao início da guerra contra a Ucrânia.
Desde o início do conflito, China e Índia se tornaram os principais aliados comerciais do país liderado por Vladimir Putin. O governo ucraniano exige punições mais rígidas contra russos.
Participante do estudo, o diplomata dos Estados Unidos, Michahel McFaul disse que “muito já foi feito, mas os especialistas do nosso grupo indicam muitas formas de aumentar a eficiência”.
O governo russo supera as sanções de países da União Europeia e dos Estados Unidos desde 2014. Na época, o país passou por restrições comerciais por anexar o território autônomo ucraniano da Crimeia.
As sanções impostas no período à Rússia fizeram o país reduzir os ganhos com as exportações. A recuperação dos valores exportados pré-anexação da Crimeia só foi alcançado em 2022, mesmo ano que Putin ordenou a invasão ao país de Volodymyr Zelensky.
A Rússia considera que ambas as restrições, pela anexação da Crimeia e pela invasão à Ucrânia, foram, além de “ilegítimas”, falhas. Além disso, também julga que as sanções permitiram ao país ter novas possibilidades.
“Estamos convencidos de que as sanções unilaterais empreendidas pelos países ocidentais são ilegítimas. E, quando falamos sobre a situação atual econômica no mundo, devemos tomar em consideração que as sanções contra a Rússia de fato falharam”, afirmou o embaixador da Rússia no Brasil Alexey Labetskiy em entrevista ao jornal O Globo, em 2023.
“Não temos escassez em nada. As sanções constituíram uma abertura de novas possibilidades para os empresários russos nos mercados interno e externo”, completou.
ENTENDA AS SANÇÕES À RÚSSIA
Em resposta às ordens de Putin, a União Europeia aprovou sanções econômicas a Rússia, Belarus e Irã. As medidas pretendiam privar o país de ter acesso a tecnologias e itens críticos, como bens utilizados na refinação do petróleo.
Dentre as restrições comerciais impostas pelos países da União Europeia, estão:
- exclusão de 10 bancos russos do sistema financeiro internacional, o Swift;
- banimento dos navios russos dos portos e mares;
- proibição da exportação de bens e tecnologias usadas no setor espacial, marítimo e aéreo;
- proibição da importação de petróleo, gás e carvão russo;
- proibição da compra de matérias-primas russas.
Na prática, tais imposições significaram que:
- as principais instituições financeiras da Rússia foram proibidas de transacionar dinheiro e trocar informações com demais bancos europeus;
- o setor das commodities foi impedido de exportar aos países da UE; e
- os componentes necessários para o desenvolvimento tecnológico do país não mais chegam por meio União Europeia.
ALTERNATIVAS COMERCIAIS
As medidas seguidas pelos integrantes do bloco europeu, no entanto, não foram seguidas pelos chineses e pelos indianos. Assim, as relações comerciais Rússia-China e Rússia-Índia se intensificaram e permitiram à economia do país de Vladimir Putin não colapsar.
A Índia tem a 3ª maior economia asiática e depende em 85% das importações de petróleo bruto para suprir a demanda interna. Com a necessidade do redirecionamento das exportações, a Rússia passou a vender 13 vezes mais aos indianos, que enviaram US$ 37 bilhões (R$ 183 bilhões) ao país de Vladimir Putin contabilizando as compras da commodities.
Além disso, o início do conflito na Ucrânia elevou o preço do barril do petróleo ao reduzir a oferta da matéria-prima disponível no mercado mundial. Dessa forma, os russos passaram a vender cada vez mais em valor e volume aos indianos e chineses.
Mesmo com as altas compras, os indianos ainda lucram com a compra do petróleo russo. Os Estados Unidos importaram, em 2023, da Índia mais de US$ 1 bilhão do combustível já refinado. Assim, apesar das sanções impostas pelo país norte-americano, os russos se beneficiaram de compras feitas pelo país liderado por Joe Biden.
Em 2023, o volume comercial entre China e Rússia também aumentou e atingiu mais de US$ 200 bilhões. Os chineses, junto aos indianos, protagonizaram os saldos mercantis dos russos, ajudando o país a continuar o conflito contra a Ucrânia.
ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DA RÚSSIA E PROJEÇÃO
O país, apesar de isolado do Ocidente, conseguiu alternativas econômicas para substituir os países que atualmente sancionam o país. As relações bilaterais com os chineses e indianos foram estimuladas nos últimos anos e mantêm fundos disponíveis ao governo Putin.
Nesse sentido, o professor de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) José Alexandre Hange afirma que sanções aplicadas à Rússia não foram efetivas pelo país já ter aprendido a contornar as restrições comerciais em 2014.
“Isso (as sanções) não desmobilizou a Rússia, ela continua fazendo a sua guerra porque ela tem um plano B”, afirmou Hange.
O professor considera a China, a Índia, o Brasil e a Venezuela financiadores do regime russo, dando para o governo Putin um “certo sopro”. O internacionalista também considera que a Rússia tem uma “margem para crescimento econômico” no futuro.
A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico) projeta retração na economia do país em 2,5%, em 2023. Em contrapartida, apesar da retração econômica russa de 2,1% em 2022, o FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que, no ano passado, a economia da Rússia tenha crescido em 0,7%.
Esta reportagem foi produzida pelo estagiário de jornalismo José Luis Costa sob a supervisão do editor-assistente Jonathan Karter.