BC deixa porta aberta para “ajustes futuros” na Selic

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) diz que poderá fazer “ajustes futuros” na taxa básica, a Selic, para levar a inflação a meta de 3%. Estima que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) será de 4% em 2024 e 3,1% em 2025 em um cenário de juro base constante ao longo do horizonte relevante –que é até o fim de 2025. Eis a íntegra do documento (PDF – 292 kB).

O BC avalia que há um cenário mais desafiador e que optou por interromper unanimemente o ciclo de queda dos juros, “destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela”.

A ata disse ainda que a política monetária deve se manter contracionista –ou seja, com a taxa acima da taxa neutra– por tempo “suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

O BC (Banco Central) decidiu na 4ª feira (19.jun.2024) manter a Selic em 10,50% ao ano. Assim, chega ao fim o ciclo de cortes da taxa básica de juros iniciado em agosto de 2023. A manutenção se deu por unanimidade dos diretores da autoridade monetária. Eis a íntegra do comunicado (PDF – 34 kB). 

Havia 7 reuniões que o BC diminuía a Selic. Foram 6 quedas de 0,50 p.p. (ponto percentual) e uma de 0,25 p.p. A taxa básica continua no patamar mais baixo desde dezembro de 2021, quando era de 9,25%.

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Influencia diretamente as alíquotas que serão cobradas de empréstimos, financiamentos e investimentos. No mercado financeiro, impacta o rendimento de aplicações.

Leia abaixo a evolução do indicador:

PT E LULA SUBIRAM O TOM

Lula critica frequentemente o patamar alto da Selic durante o seu 3º mandato no Planalto. Os ataques são direcionados ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. As reclamações se intensificaram nos dias que antecederam a reunião desta 4ª feira (19.jun).

Como mostrou o Poder360, a expectativa para o fim do ciclo de cortes era praticamente uma unanimidade no mercado financeiro. As projeções sobre a decisão mexeram com os ânimos políticos do petista e de seus aliados.

Na 3ª feira (18.jun), o presidente disse que Campos Neto trabalha contra a economia. Afirmou que o chefe da autoridade monetária quer prejudicar o país e tem lado político.

“Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político, e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, declarou o petista em entrevista à rádio CBN.

No mesmo dia, o PT (Partido dos Trabalhadores) anunciou que entrará com uma ação contra o presidente da autoridade monetária na Justiça.

Como parte da ofensiva, a presidente nacional da sigla, deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), ainda fará uma live depois do anúncio do Copom, às 19h. O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Márcio Pochmann, também participa. Será transmitida no canal do YouTube da legenda. 

Lula tem 4 indicados no Banco Central. Só conseguirá obter maioria das cadeiras em 2025, quando Campos Neto e outros 2 diretores terminam o mandato. Ou seja, a partir de janeiro, o Banco Central será controlado pelo Palácio do Planalto. Uma situação parecida se deu durante o 2º mandato de Dilma Rousseff (PT).

PLACAR UNÂNIME

Todos diretores do BC (Banco Central), inclusive os 4 indicados pelo atual governo, seguiram Roberto Campos Neto e optaram por manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,50%.

Se o encontro de maio teve um racha no colegiado, a reunião desta 4ª feira (19.jun) apresentou uma coesão na política monetária.

Os analistas do mercado financeiro já esperavam a manutenção da Selic, mas a dúvida era se o Copom teria polarização como na reunião anterior.

Os indicados do atual presidente são:

  • Gabriel Galípolo (Política Monetária) – assumiu o cargo em 12 de julho de 2023;
  • Ailton Aquino (Fiscalização) – assumiu o cargo em 12 de julho de 2023;
  • Rodrigo Teixeira (Administração) – assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2024;
  • Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) – assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2024.

Um comitê dividido não é bom para este período de transição na presidência do Banco Central. Há um receio entre os agentes financeiros de que as saídas de Roberto Campos Neto e de mais 2 diretores em dezembro de 2024 possam tornar a autoridade monetária mais tolerante com a inflação mais alta.

O COPOM

A reunião do Copom é a 4ª com 4 nomes indicados pelo presidente Lula.

O Banco Central é uma instituição com autonomia operacional. Os 8 diretores e o presidente têm mandatos de 4 anos –que não coincidem com o período eleitoral do Poder Executivo. 

Leia no infográfico abaixo os quem são os diretores e a duração de seus mandatos:

POLÍTICA MONETÁRIA

A taxa Selic recuou 3,25 pontos percentuais desde o início do ciclo de cortes. Relembre as decisões BC nas últimas 8 reuniões:

  • agosto de 2023 corte de 13,75% para 13,25%;
  • setembro de 2023 corte de 13,25% para 12,75%;
  • novembro de 2023 corte de 12,75% para 12,25%;
  • dezembro de 2023 corte de 12,25% para 11,75%;
  • janeiro de 2024corte de 11,75% para 11,25%;
  • março de 2024 corte de 11,25% para 10,75%;
  • maio de 2024 corte de 10,75% para 10,50%;
  • junho de 2024 – manutenção em 10,50%.
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