BYD tem que pedir desculpas a Lula e Alckmin, diz Unica

Evandro Gussi, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), entidade que representa a indústria do etanol, disse que a fabricante de carros chinesa BYD deve pedir desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o representante da empresa no Brasil, Alexandre Baldy, que foi ministro de Michel Temer (MDB), havia afirmado que o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), comandado por Alckmin, é “retrógrado” porque defendeu que carros elétricos sejam tributados com imposto seletivo, igual a todos os outros tipos de veículos. Baldy disse também que na gestão de Lula há “diversos governos” operando internamente.

Eis as duas declarações de Baldy publicadas pelo jornal:

  • Os governos são distintos, existem vários governos dentro do mesmo governo. Na avaliação de quem está tomando à frente da reforma tributária e que enviou os projetos de lei complementares para concluir a reforma tributária, a visão dela [a Fazenda] é muito clara e inclusive foi cética sobre essa recomendação do Mdic“;
  • É surpreendente que o Ministério da Fazenda esteja sendo desenvolvimentista, no aspecto da transição energética para uma neoindústria, e o MDIC, o qual deveria ser desenvolvimentista, está sendo retrógrado”.

Para Gussi, a fala é inadequada e a empresa deveria fazer um pedido formal de desculpas ao governo brasileiro. Eis o que disse Gussi em entrevista ao Poder360:

Quando eles [BYD] dizem que há vários governos, o que estão dizendo é que não há coordenação da Presidência e dos órgãos governamentais. Se fosse uma empresa brasileira, já seria desrespeitoso. Para uma estrangeira, é totalmente inadequado. O que existe em um governo democrático são divergências, construções. Dizer que são vários governos em um, buscar desqualificar a liderança do presidente Lula e do vice-presidente Alckmin, não dá. Eu faço um desagravo ao governo como brasileiro. Essas palavras deveriam ser retiradas. Mereceria um pedido de desculpas formal ao presidente Lula, institucionalmente ofendido, e ao presidente Alckmin”.

Na entrevista, Baldy disse que os carros elétricos não emitem gases causadores do efeito estufa. Essa definição, porém, não leva em conta a produção das baterias e tampouco a fonte de energia elétrica usada para recarregá-las. Gussi rebateu essa afirmação dizendo que qualquer análise científica desqualificaria essa fala.

Na 5ª feira (27.jun), Lula sancionou a lei do Mover, que institui regras de sustentabilidade para o transporte no país. Foram adotados, para medir a emissão de gases, os conceitos “do poço à roda” e “do berço ao túmulo”:

  • “do poço à roda” – envolve o saldo das emissões provenientes da produção de energia que move o veículo.
  • “do berço ao túmulo”envolve também a produção e a reciclabilidade dos carros. Sob essa perspectiva, os carros elétricos geram mais emissões que os híbridos a etanol e os de combustão a etanol.

O Mover é a vanguarda da mobilidade sustentável. Vamos medir os gases causadores de efeito estufa do poço à roda. E também do berço ao túmulo, em todo o processo do veículo. Não só no escapamento, como faz a BYD. Quando a BYD fala que um carro 100% elétrico não tem emissões de gases, isso é mentira, é um atentado contra a ciência”, disse Gussi.

Leia trechos da entrevista:

Desrespeito ao Brasil
Acho que a abordagem da BYD em relação à República brasileira foi desrespeitosa. Quando eles dizem que há vários governos, o que estão dizendo é que não há coordenação da Presidência e dos órgãos governamentais. Se fosse uma empresa brasileira, já seria desrespeitoso. Para uma estrangeira, é totalmente inadequado. O que existe em um governo democrático são divergências, construções etc. Dizer que são vários governos em um, buscar desqualificar a liderança do presidente Lula e do vice-presidente Alckmin não dá. Eu faço um desagravo ao governo como brasileiro. Essas palavras deveriam ser retiradas. Mereceria um pedido de desculpas formal ao presidente Lula, institucionalmente ofendido, e ao presidente Alckmin.

Mover
O Brasil sancionou o principal projeto de mobilidade verde do mundo, o Mover. Ele foi enviado pelo presidente Lula e Alckmin ao Congresso. Foi desenhado dentro do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e aprovado quase que por unanimidade no Legislativo. O Mover é a vanguarda da mobilidade sustentável. Vamos medir os gases causadores de efeito estufa do poço à roda. E também do berço ao túmulo, em todo o processo do veículo. Não só no escapamento, como faz a BYD. Quando a BYD fala que um carro 100% elétrico não tem emissões de gases, isso é mentira, é um atentado contra a ciência. Qualquer cientista e ele vai desqualificar uma afirmação como essa.

BYD e energia renovável
Imagina um carro 100% elétrico que abastece com energia de carvão mineral ou é produzido nesse contexto. A China usa 60% da energia oriunda do carvão e quase 90% de combustíveis fósseis, segundo a Agência Internacional de Energia. É onde esses carros são feitos. A BYD diz que usa placas solares para produzir, e não tenho como dizer que não seja verdade, mas tampouco acredito. É muito curioso que um país com 90% da energia dependente de fontes fósseis tenha uma empresa 100% renovável por placas solares. Gostaria de ver a afirmação de que 100% da produção dos veículos da BYD são feitos com energia de fonte renovável auditada por uma empresa com reputação global. Não consigo acreditar sem antes ter uma auditoria externa independente e confiável.

Vanguarda
No Mover, você calcula a energia total. Os componentes são de baixa pegada de carbono ou alta? Isso coloca o Brasil na vanguarda. A Europa só mede do tanque à roda e finge que nada acontece. Os Estados Unidos, também. No Brasil, vai medir tudo. Fazer, usar, descartar, reciclar. O mundo tem um longo caminho para chegar onde estamos. A BYD desrespeita profundamente o governo que mandou a proposta de lei e o Congresso, que aprovou.

Mais emissões
A BYD, quando exporta para o Brasil, coloca o carro no navio e transporta em um bunker. Isso gera emissão. Dizer que o elétrico não gera gases é uma falácia, para ser muito diplomático. A fala é desrespeitosa, indelicada e mentirosa. Se baseia em fatos contrários à ciência e à realidade.

Imposto seletivo
O Alckmin disse corretamente que no Mover não existe diferenciação entre tecnologia A ou B. O que o Mover faz é: me mostra o carro, independentemente da tecnologia, e eu quero ver quantos gramas de carbono ele emite por km. Aí terá os incentivos adequados. Não há previsão de tributação para carro elétrico, como não tem para carro nenhum. O que terá é a gradação do tributo, que será feita a partir das emissões. E também saber se é feito no Brasil ou não. Veja como a China é diferente. Aqui, a BYD só vai montar o carro. Na China, o Elon Musk teve que fazer a maior fábrica da Tesla em Xangai para vender carros no país. Não aceitaram importação.

Reforma tributária
Existe na reforma tributária o imposto seletivo que está para veículos a combustão, e não para elétrico. Isso está errado. O governo não fará essa discriminação. Houve erro do ministério da Fazenda. O anexo [da reforma] teve equívoco de colocar os veículos a combustão e híbridos para pagar o imposto seletivo e não para o 100% elétrico. Confiamos que o Congresso e o governo vão manter a coerência e tratar de maneira igual. O flex e o híbrido produzidos no Brasil têm menos pegada de carbono que o elétrico produzido na China. E queremos que todos sejam tratados com igualdade.

Sustentabilidade em 3 vias
Existe uma proposta para colocar imposto seletivo em veículos. Não pode por o tributo para o veículo brasileiro produzido aqui, e que faz carros com baixa intensidade de carbono há 60 anos. A sustentabilidade é ambiental, econômica e social. O Brasil é ícone no transporte sustentável nessas 3 áreas. Vai ser punido? Os investimentos da indústria automobilística chegam a mais de R$ 110 bilhões. Por quê? Porque teremos política pública para aferir as emissões por km. Vale fazer investimento aqui no Brasil. No caso da BYD, é o regime CKD [Completely Knock-Down, regime em que o país recebe um kit de peças prontas e só monta o veículo], que emprega de 10 a 12 pessoas. Procura os números oficiais da BYD. Incluindo segurança, porteiro e serviço de café, não passa de 12.

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