Brasil teve 6 projetos econômicos frustrados antes do Plano Real

O Brasil testou 6 planos de estabilização econômica antes da implementação do Real. O objetivo de todos era conter a hiperinflação, que destruía o poder de compra da população. Se tratava de uma corrida contra o tempo: a inflação chegou a alcançar 80% ao mês, enquanto o país registrava aumento da dívida externa. 

Nessa época, o Brasil teve uma das piores recessões econômicas (perda de 4,3% do PIB), segundo José Luis Oreiro, professor do departamento de economia da UnB (Universidade de Brasília). O fracasso dos planos se deu na escolha inadequada dos instrumentos utilizados para estabilização, conforme ele.

Foram adotadas diferentes estratégias: congelamento de preços, mudanças de moeda, indexador financeiro e embargo de poupanças.

José Sarney (PMDB) implementou 4 dos 6 projetos. Fernando Collor (PRD —Partido Renovação Democrática) foi responsável por 2. Só depois, em 1º de julho de 1994, foi implementado o Plano Real, sob gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, explica que os brasileiros não confiaram no êxito do Plano Real por causa da frustração com os planos anteriores. A confiança pública foi restaurada durante a transição para a nova moeda, com a criação da URV (Unidade Real de Valor).

“Outros planos eram como um choque, eles anunciavam o novo plano e já passava a valer no dia seguinte. Imagina, não tinha tempo para absorver a mudança. O Plano Real não pulou essa etapa”, disse.

A URV foi uma moeda fictícia criada como unidade de referência durante o processo de transição do Cruzeiro Real para o Real. Os preços eram cotados em ambas as moedas com o objetivo de demonstrar à população que os valores em reais permaneceriam o mais estáveis possível (devido a construção do plano econômico), enquanto a inflação continuava afetando os preços em cruzeiro real.

Planos Cruzado I

O Plano Cruzado I criou o que foi chamado de “gatilho salarial”: quando a inflação acumulada (desde o início do plano) chegasse a 20% ao mês, os salários deveriam obrigatoriamente ser corrigidos pelo mesmo índice.

  • lançamento: fevereiro de 1986;
  • o que foi: troca do cruzeiro pelo cruzado, com o corte de 3 zeros na antiga moeda (Cr$ 1000=Cz$ 1);
  • presidente: José Sarney;
  • observação: houve congelamento da taxa de câmbio oficial e dos preços, inclusive com campanha do governo para que as pessoas supervisionassem os empreendimentos comerciais e fiscalizassem os preços. Foi cunhada a expressão “fiscais do Sarney”;
  • resultado: inflação teve queda mensal; aumento do poder aquisitivo da população, mas houve desequilíbrio dos preços relativos do ponto de vista econômico-financeiro das empresas como resultado do congelamento de preços. O custo de produção aumentava, mas o valor de venda seguia o mesmo; houve escassez de diversos produtos e, consequentemente, aumento da inflação;

O Plano Cruzado II

  • lançamento: novembro de 1986;
  • o que foi: pacote fiscal para conter inflação reprimida durante o congelamento de preços no Plano Cruzado I;
  • presidente: José Sarney;
  • observação: houve o descongelamento de preços e aumento de impostos e tarifas de alguns serviços. Taxa cambial seguiu congelada;
    resultado: exportações prejudicadas; declaração moratória da dívida externa; inflação acima de 2 dígitos. Segundo explicou o professor da Unb, houve um movimento das empresas em ajustar os valores dos produtos acima da inflação como medida de prevenção diante do iminente aumento dos custos de produção.

Plano Bresser

O Plano Bresser levou o nome do ministro da Fazenda na época, Luiz Carlos Bresser Pereira.

  • lançamento: junho de 1987;
  • o que foi: novo congelamento de preços e extinção do gatilho salarial;
  • presidente: José Sarney;
    observação: criou-se um indexador financeiro, chamado de URP (Unidade de Referência de Preços) para reajustes de preços e salários na tentativa de eliminar o desequilíbrio de preço relativo. Oreiro descreve como um plano misto, que tentou aproveitar as falhas dos planos anteriores;
  • resultado: redução da taxa mensal de inflação; congelamento de preços não funcionou; preço dos produtos aumentaram de forma descontrolada; inflação voltou a subir. Segundo o professor da UnB, o problema principal do plano esteve atrelado à moratória do Brasil. Diz que enquanto a inflação seguisse relacionada ao câmbio e o câmbio não pudesse sofrer ajustes por conta da dívida externa, a estabilização da economia se tornaria inviável.

Plano Verão

  • lançado: janeiro de 1989;
  • o que foi: reforma monetária. Houve a troca da moeda cruzado pelo cruzado novo e corte de 3 zeros na moeda (Cz$ 1000 = NCz$ 1). Os preços seguiram congelados;
  • presidente: José Sarney;
  • observação: foram extintas a URP e a OTN;
  • resultado: a inflação chegou a apresentar queda, mas subiu descontroladamente e atingiu 1.972,91% ao ano. O professor da UnB descreve o principal problema a repetição de instrumentos já utilizados e, portanto, fracassados em planos anteriores.

Plano Collor I

A inovação deste plano foi a flexibilização do regime cambial.

  • lançado: março de 1990;
  • o que foi: implementado por medida provisória, o plano confiscou os depósitos à vista e de poupança pelo prazo de 18 meses com a justificativa de fazer uma espécie de congelamento da moeda. A moeda voltou a se chamar cruzeiro sem o corte de zeros (NCz$ 1 = Cr$ 1);
  • presidente: Fernando Collor;
  • observação: houve o congelamento de preços e salários;
  • resultado: recessão sem contenção da inflação.

Plano Collor II

  • lançado: janeiro de 1991;
  • o que foi: fim das contas indexadas de pessoas físicas (remuneradas por aplicações de um dia em títulos públicos –o chamado overnight);
  • presidente: Fernando Collor;
  • observação: introduziu-se a Taxa de Referência (TR) –taxa de juros criada com o objetivo de controlar a inflação e desindexar a economia; tentaram recuperar a capacidade do banco central de fazer a política monetária;
  • resultado: conteve a inflação por pouco tempo; instabilidade macroeconômica somou-se à instabilidade política; Collor sofreu impeachment (fim de 1992); Itamar Franco (sucessor) trocou sucessivamente de ministros da Fazenda e determinou a última troca monetária de cruzeiro para cruzeiro real, com corte de três zeros (Cr$ 1000 = CR$ 1).
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