O presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Márcio Pochmann, defendeu que o instituto passe a ser um coordenador-geral dos dados oficiais do país. Em audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara na última 3ª feira (9.jul.2024), ele disse que essa mudança depende de uma lei, mas também de um fortalecimento orçamentário do órgão.
Pochmann lembrou que o IBGE já respondeu diretamente ao presidente da República, mas foi perdendo espaço e recursos a partir da ditadura militar, o que fez com que os outros ministérios criassem seus próprios bancos de dados, como Serpro, Dataprev, Inep e Datasus. Ele disse que, mesmo sem os meios necessários, o órgão tem feito esforços para integrar dados de educação, saúde e previdência.
Segundo o presidente do IBGE, coordenar dados é uma questão de soberania nacional. “É quase um censo que é feito a cada dia a respeito das decisões que tomamos sobre lugares para onde vamos, aplicativos que utilizamos, músicas, entretenimento, mensagens, pagamentos, enfim, uma massa de informações pessoais que estão depositadas e servem de modelo de negócio para empresas que não são brasileiras, não geram emprego no Brasil, não compartilham tecnologia, não pagam impostos”, declarou.
Para o deputado Jorge Solla (PT-BA), ter informações de pesquisas regulares e confiáveis é importante para controlar a desinformação e as fake news. “Alguém afirma e quer fazer com que as pessoas acreditem que hoje temos uma inflação descontrolada no país, e a apuração que o IBGE faz é contrária a essa tese. A informação, em tempos de fake news, onde o mais importante para essa estratégia são as versões e não os fatos, ela passa a ser inimiga dessa estratégia”, disse.
O diretor do ASSIBGE (Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística), Cleiton Batista, disse que 60% dos trabalhadores do instituto são empregados temporários para pesquisas contínuas, como a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), diferentemente da situação dos temporários da pesquisa do Censo Demográfico. Segundo ele, essas pessoas ganham pouco mais que o salário mínimo, e a rotatividade é alta.
Márcio Pochmann afirmou que, para os próximos anos, o IBGE precisa dar conta de 17 pesquisas de orçamento familiar e do censo agropecuário de 2026, ano em que completará 90 anos. Somente em 2024, são mais de 300 pesquisas, que vão desde a temperatura do mar até os índices inflacionários.
As pesquisas de orçamento familiar são necessárias, segundo ele, para atualizar os dados sobre o consumo das famílias e informações sobre quantidade de horas de trabalho, home office, cuidados com terceiros e deslocamentos no trânsito, que vão orientar políticas públicas.
A pesquisadora Mercedes Bustamante, representante da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) afirmou na audiência que estatísticas também são importantes para as decisões de investimento de estrangeiros, pois fornecem dados que permitem a comparação entre países.
Com informações da Agência Câmara.