O cientista brasileiro César Lattes (1924-2005), se estivesse vivo, teria completado 100 anos na última 5ª feira (11.jul.2024). Ele nasceu em 11 de julho de 1924 em Curitiba (PR). Uma de suas descobertas sobre partículas físicas levou o chefe do laboratório de Bristol (Inglaterra), Cecil Powell –para o qual trabalhava–, a vencer o prêmio Nobel em 1950.
Mesmo não recebendo o prêmio individualmente, Lattes foi aclamado e ficou famoso. Recebeu convites de trabalho em diversos países do mundo, mas resolveu continuar sua carreira no Brasil.
Por conta de sua trajetória que foi além do seu campo de estudo e da defesa da ciência no Brasil, Lattes é homenageado pelo nome da plataforma que reúne os dados de pesquisadores e professores brasileiros, na base do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Formado em Física aos 19 anos na USP (Universidade de São Paulo), sua principal descoberta se deu quando ele tinha somente 23 anos, em 1947. Em um experimento com emulsões químicas em chapas fotográficas, conseguiu identificar partículas méson Pí, uma hipótese que estava antes somente no campo da teoria, para explicar o funcionamento do átomo
Quando se formou, Lattes ficou entusiasmado ao ficar sabendo do que era feito na Inglaterra na detecção de partículas de raios cósmicos, tema que já trabalhava com seus professores Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini, no Departamento de Física da Universidade de Bristol. Em 1946, a convite de Occhialini, Lattes o Reino Unido, com bolsa da British Council, trabalhar no laboratório de Cecil Powell na calibração das novas emulsões nucleares, um detector de partículas que era um aperfeiçoamento das chapas fotográficas comuns.
O que eles buscavam entender é como prótons (partículas com carga positiva) ficam juntos no núcleo do átomo sem se repelir. Segundo Antonio Augusto Videira, professor de filosofia e história da ciência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), esse era um problema muito importante da física nuclear na década de 1930: entender como o núcleo do átomo fica coeso e o que está fazendo o papel de “cola” entre os prótons.
“As partículas mesons estavam sendo procuradas havia uma década por físicos não apenas na Inglaterra, mas também nos Estados Unidos”, afirma Videira. O professor explica que Lattes começou rapidamente a imaginar outros processos para conhecer melhor as emulsões a fim de que os experimentos fossem mais confiáveis.
“Antes, eles não conseguiam extrair dados quantitativos. Conseguiam registrar, mas não sabiam a massa e energia do evento. O meson é como se fosse uma partícula intermediária entre o próton e o neutron”, afirma.
Lattes tentou 1º realizar o experimento no Pic du Midi, a 2.880 metros acima do nível do mar, na França, com emulsões tratadas com Boro. Mas ainda não foi o suficiente. “O Lattes tem a ideia de ir a uma montanha ainda mais alta, na Bolívia. Ele deixou as chapas e 1 mês depois voltou ao monte, recolheu as chapas e conseguiu encontrar os registros”, diz Videira.
O estudo, então, foi realizado no alto do Monte Chacaltaya, a 5.500 metros acima do nível do mar, em La Paz (Bolívia). A 1ª apresentação da descoberta foi feita na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, que era ligada ao Museu do Brasil.
Pesquisadores brasileiros buscam, até hoje, entender por que o prêmio de 1950 não foi para Lattes. “Ele acabou não ganhando o Prêmio Nobel por uma série de razões. Ele foi indicado 7 vezes para o Prêmio Nobel e acabou não ganhando”.
Nos anos seguintes, as pesquisas de Lattes se tornaram conhecidas, com destaque na imprensa. Segundo Videira, essa popularidade foi fundamental para uma transformação na física e na ciência brasileiras.
César Lattes foi convidado para trabalhar em institutos e universidades de várias partes do mundo, mas resolveu voltar ao Brasil. Juntou-se, então, a outros pesquisadores para lutar por maior investimento na ciência. “Eles queriam, por exemplo, obter o chamado tempo integral para os professores, que hoje em dia a gente chama de dedicação exclusiva”., diz o professor Ivã Gurgel, da USP.
Foi nesse contexto, aliado à valorização da ciência em todo o mundo depois da 2ª Guerra Mundial, que se deu a criação do CNPq.
Segundo os professores, a história de César Lattes serve para inspirar os mais jovens. Segundo Ivã Gurgel, mesmo entre os alunos na graduação, há quem não conheça quem foi o pesquisador. “A gente precisa fazer um trabalho de preservação de memória e de divulgação”, afirma.
Com informações da Agência Brasil.