Perto de completar 5 meses de guerra entre Israel e o Hamas, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, afirmou que o povo palestino não “levantará bandeira branca” frente aos ataques israelenses e que só o reconhecimento de um Estado palestino colocará fim ao conflito no território.
“O Estado [palestino] será criado e o nosso povo não vai levantar bandeira branca. Se seguimos desde 1948 lutando por nossa independência, essa luta vai seguir até conseguirmos esta paz que nos permite criar o nosso entorno”, afirmou Alzeben em entrevista ao Poder360 feita na 4ª feira (21.fev.2024).
O embaixador define o conflito atual como “continuidade do genocídio” que, segundo ele, teve início em 1948, ano em que o Estado de Israel foi criado, resultando em uma guerra no mesmo ano. “O que tem que parar é o genocídio, é a ocupação do território palestino, onde está nosso entorno, nossa base natural para criarmos um Estado”, disse.
Ele defende, ainda, que a guerra não seja definida como “contra o Hamas”, mas sim contra o povo palestino. Isso porque, apesar de o grupo ter dado início à escalada de violência com os ataques de 7 de outubro, a maioria das vítimas são civis.
“Os 30.000 mortos não são do Hamas. São crianças, são mulheres”, afirmou em referência à contagem de vítimas desde o início da guerra feita pelo grupo extremista, que até a última 6ª feira (16.fev), últimos dados disponíveis, contabilizava 29.170 mortos palestinos. Do total de mortos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, 12.405 são crianças e 8.400, mulheres. Israelenses mortos no conflito somam 1.139.
Assista (1min36s):
“NÃO QUEREMOS SEGUIR SENDO REFUGIADOS”
Com a intensificação da violência entre israelenses e o Hamas em outubro de 2023, a situação humanitária no território também se agravou, fazendo com que palestinos precisassem se refugiar do conflito.
Questionado sobre a possibilidade desses refugiados serem trazidos ao Brasil, Alzeben afirmou que “nossa pátria” é a Palestina. “Não queremos seguir sendo refugiados“.
“Nosso povo tem direito a viver em paz no seu território, igual a todos os outros povos. […] Adoramos o Brasil, mas queremos visitar o Brasil como turistas, como amigos, como irmãos, e não como refugiados”, afirmou
Para Alzeben, a questão central a ser discutida no momento é o fim da “agressão” de Israel. Ele cita como alguns dos problemas enfrentados pelos palestinos a escassez de água potável e a falta de alimentos.
“Israel não está deixando a entrada de alimentos […] Em Gaza, não chega 1 litro de água. Tem gente que está com muitas doenças por falta de água potável […] Tem que parar essa guerra para depois falar da reconstrução de Gaza. Tem que abrir um horizonte político deste problema”, afirmou.
Veja as imagens feitas pelo fotógrafo do Poder360, Sérgio Lima:
SITUAÇÃO EM GAZA É “PIOR QUE O HOLOCAUSTO”
Em declaração no domingo (18.fev), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou o que acontece atualmente na Faixa de Gaza com o extermínio do povo judeu na Alemanha nazista. No entanto, na avaliação de Alzeben, a situação em Gaza chega a ser ainda pior e uma definição para a situação humanitária dos palestinos ainda há de ser inventada.
“Eu acho que o que está acontecendo na Faixa de Gaza é pior [do que o Holocausto], porque a situação de Gaza agora é tão dramática que não dá para comparar com nenhuma outra guerra no mundo, seja a 1ª Guerra Mundial ou a 2ª Guerra Mundial […] Eu acho que devemos encontrar um termo politicamente adequado a esta situação dramática, mais do que chacina, mais do que Holocausto, mais do que genocídio”, afirmou.
Segundo Lula, essa comparação se dá porque a guerra entre Israel e Hamas não é entre “soldados e soldados”, mas sim entre “soldados altamente preparados” e “mulheres e crianças”, argumento similar ao de Alzeben.
As declarações do chefe do Executivo sobre o Holocausto deram início a uma crise diplomática entre o Brasil e Israel. Em reação, o chanceler de Israel levou o embaixador brasileiro ao Museu do Holocausto e Israel declarou Lula “persona non grata” no país até que se retrate pela comparação.
A fala do presidente se deu depois de ter sido questionado sobre doações à UNRWA (sigla em inglês para Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos). Em janeiro, mais de 10 nações, entre elas os Estados Unidos e a França, interromperam o envio de dinheiro depois que funcionários da organização foram acusados por Israel de ajudar o Hamas a atacar o país em outubro passado, movimento criticado por Lula.