TCU vê risco de prejuízo de quase R$ 500 mi à Petrobras com a Unigel

O TCU (Tribunal de Contas da União) cobrou explicações da Petrobras sobre o contrato de industrialização por encomenda (tolling) firmado com a Unigel. O acordo, assinado em 29 de dezembro de 2023, garantiu a retomada das atividades das fábricas de fertilizantes da petroleira que estão arrendadas (alugadas) para a empresa na Bahia e em Sergipe.

O ministro Benjamin Zymler, relator do caso, expediu despacho em 1º de fevereiro determinando a manifestação da Petrobras e do Ministério de Minas e Energia, segundo informações do jornal O Globo confirmadas pelo Poder360. Análise técnica da Corte de Contas indicou que o contrato pode causar um prejuízo de quase R$ 500 milhões ao caixa da petroleira.

A área técnica do TCU identificou “indícios de irregularidades” no acordo, como falha nas justificativas para a realização do negócio e falta de assinatura de instâncias superiores da companhia no contrato, além de afronta aos princípios da eficiência, da economicidade e da razoabilidade.

Zymler afirmou que ao manter o contrato de arrendamento ao mesmo tempo que contrata a Unigel de forma terceirizada para operar a fábrica, a Petrobras “passa a fornecer o gás e receber fertilizante, tornando-se responsável por sua comercialização, assumindo o ônus de uma operação deficitária de quase meio bilhão de reais em um período de 8 meses”, diz na decisão.

Os técnicos afirmaram ainda que o negócio se mostra uma medida provisória e que contraria o próprio Plano Estratégico 2024-2028 da Petrobras, aprovado em novembro com a indicação de US$ 102 bilhões em investimentos e que inclui a volta da estatal ao segmento de fertilizantes.

A Petrobras arrendou as Fafens da Bahia e de Sergipe para a Proquigel, subsidiária da Unigel, em 2019, no governo Jair Bolsonaro (PL). O contrato tem duração de 10 anos. No entanto, a empresa a paralisou as 2 fábricas de fertilizantes em 2023 pela falta de lucratividade.

A companhia é a 2ª maior petroquímica do Brasil, mas vem enfrentando dificuldades financeiras. De janeiro a setembro de 2023, o grupo acumulou um prejuízo de R$ 1,05 bilhão. No mesmo período de 2022, a empresa tinha registrado lucro de R$ 491 milhões.

A gestão de Jean Paul Prates negociou uma forma de retomar a produção, uma vez que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vinha cobrando ações da estatal no setor de fertilizantes. O arranjo encontrado para o curto prazo foi o tolling, assinado no final de 2023 e com vigência de 8 meses.

COMO FUNCIONA O TOLLING

Pelo acordo de tolling, a Unigel seguirá na operação das duas fábricas, que terão o gás natural fornecido pela Petrobras. A produção final também será comercializada para a estatal. É como se a empresa fosse operar a fábrica para a petroleira de forma terceirizada.

A possibilidade do arranjo já tinha sido anunciada em novembro por Prates. Na ocasião, o CEO disse que esse seria um caminho provisório, mas que seria estudada uma medida de longo prazo. Uma das possibilidades é a criação de uma joint venture com a Unigel para operação da fábrica até o final do contrato de arrendamento.

Na ocasião, ele explicou como funciona o modelo: “Nesse arranjo de tolling, a planta roda a nossa produção e vamos obter produtos para nós mesmos. A Petrobras coloca o gás, eles produzem e comercializam para nós. Ou seja, operam para nós. É um serviço. A empresa paga pelo arrendamento, mas opera para nós como prestadores de serviço“, disse.

A reportagem do Poder360 procurou a Petrobras e a Unigel para comentar a decisão, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.