As ações da Polícia Militar na Baixada Santista, litoral paulista, deixaram 7 mortos de 6ª feira (2.fev.2024) a domingo (4.fev), segundo a SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo).
De acordo com a secretaria, foram registradas 7 ocorrências com confronto ao longo dos 3 dias. Em uma delas, na Vila dos Criadores, em Santos, 3 pessoas foram mortas. As outras mortes aconteceram em 4 situações em que os policiais relataram trocas de tiros.
Na 6ª feira (2.fev), um policial militar foi morto em uma ação em Santos. Como reação, o governo estadual lançou uma nova fase da Operação Escudo. Segundo a SSP, na noite do mesmo dia, 3 suspeitos de participação na morte do policial foram presos próximo ao município de Cubatão. Foi apreendida uma pistola e diversos cartões bancários.
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Mortes dobram
Outros ataques a policiais já haviam motivado o estabelecimento de fases da Operação Escudo em diferentes partes do Estado. De acordo com a SSP, as forças de segurança buscam “restabelecer a ordem e a sensação de segurança da população”.
A 1ª Operação Escudo foi lançada no ano passado, depois da morte de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), no Guarujá. As ações resultaram na morte de 28 pessoas em 40 dias.
Em 2023, as mortes causadas por ação da Polícia Militar mais do que dobraram na região da Baixada Santista. Segundo os dados divulgados pela SSP, 72 pessoas foram mortas no ano passado por policiais militares na região, ante 34 em 2022.
Ouvidoria e defensoria
A possibilidade de repetição da letalidade observada no ano passado fez com que a Ouvidoria das Polícias de São Paulo solicitasse, por ofício, que os policiais militares envolvidos nas novas fases da Operação Escudo usem câmeras corporais.
Na 4ª feira (31.jan), a Defensoria Pública de São Paulo pediu ao governo estadual o envio dos boletins de ocorrência das ações da nova fase da Operação Escudo em que houve morte causada por policiais.
Ciclo de violência
Para a socióloga Giane Silvestre, pesquisadora do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo), a forma de resposta a partir desse tipo de operação vai na direção errada. “Essa lógica de enfrentamento não é nem um pouco efetiva para a proteção dos policiais. Pelo contrário, ela deixa os policiais mais vulneráveis a esse tipo de ataque”, enfatiza Giane. “Se a resposta do Estado também for excessos, também for abusos, isso vai gerar um ciclo de violência”, avaliou.
A melhor forma de lidar com a violência contra os policiais, na visão da pesquisadora, é atuar com foco na prevenção, com investigações qualificadas. “É investir em uma investigação que seja capaz de identificar e prevenir esses ataques. Porque se esses ataques de fato forem orquestrados, forem planejados por grupos de criminosos, a polícia tem condições de investigar e de evitar”, ressalta.
Para a Giane, é fundamental que não se repita o que aconteceu na Operação Escudo de 2023. “Nenhuma operação policial que resulta nessa quantidade de pessoas mortas pode ser considerada uma operação de sucesso. Operação policial de sucesso é aquela que preserva a vida das pessoas, e não que extermina a vida das pessoas.”
Com informações da Agência Brasil.