Vacina não resolve onda de dengue neste ano, dizem especialistas

O impacto da vacina na onda de casos de dengue neste e nos próximos 4 anos deve ser muito pequeno e não será a principal forma de conter a propagação da doença.  Isso se dá pela quantidade pequena de imunizantes que a fabricante conseguirá entregar ao governo brasileiro: 6,6 milhões de doses neste ano e 9 milhões em 2025. Até 2028, a expectativa é de 50 milhões de doses.

Para imunizar são duas doses, com intervalo de 3 meses cada uma. Ou seja, daqui a 3 meses vai atender em torno de 3 milhões de pessoas, um número irrisório quando se considera o total de pessoas expostas”, diz Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Chebabo afirma que, em 3 meses, quando essa parcela da população pode estar imunizada, a onda de casos de dengue já deve estar refluindo naturalmente.

A vacina só deve passar a ser determinante a longo prazo. “O laboratório Takeda deve entregar 50 milhões de doses em 5 anos. Dá para vacinar apenas 13% da população brasileira. Não haverá impacto nos números de dengue nem no curto, nem no médio prazo”, diz Renato Kfouri, vice-presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunologia).

Esforços para aumentar vacinas

A vacina da dengue Qdenga, da farmacêutica Takeda, foi aprovada em março de 2023 pela Anvisa. Como a vacina é recente, a produção ainda é pequena e não tem a escala suficiente para atender à população brasileira.

Alguns caminhos são buscados para resolver a situação. No sábado (3.fev) a ministra da saúde Nísia Trindade disse que realizou reuniões com a Anvisa, a Fiocruz e o Instituto Butantã com o objetivo de ampliar a oferta de vacinas.

Testes clínicos mostraram eficácia de 79,6% da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã. O órgão deve enviar à Anvisa as informações completas para decidir sobre a liberação no Brasil no 2º semestre deste ano.

A Takeda também diz estar em busca da ampliação de sua capacidade produtiva. A companhia anunciou que busca parceria com laboratórios públicos nacionais para acelerar a produção da vacina e o atendimento da demanda do SUS (Sistema Único de Saúde). O laboratório restringiu, por enquanto, as entregas à rede particular. Privilegiará o SUS. Planeja entregar 100 milhões de doses em todo o mundo até 2030.

Aumento de casos

O Brasil vive uma explosão de casos de dengue no início de 2024. Os casos triplicaram em relação ao ano passado. O país passou de 93.298 casos de dengue nas 5 primeiras semanas epidemiológicas de 2023 para 342 mil casos no mesmo período de 2024. Os dados são do painel de arboviroses do Ministério da Saúde, atualizado em 5 de fevereiro.

Acre, Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais decretaram emergência de saúde pública.

Especialistas apontam alguns fatores para o grande salto no número de casos:

  • mudanças climáticas – o aquecimento global ajudou na expansão dos mosquitos que carregam a doença para outras regiões. Com temperatura mais quente, os ovos das fêmeas fecundam mais rapidamente. Mudanças nos padrões de chuvas também contribuem com uma maior propagação da dengue;
  • circulação alta – o ano de 2023 já tinha tido muitos casos, inclusive no inverno, período em que a doença é mais rara. Já era possível identificar circulação alta dos sorotipos 1 e 2 da doença. Com o verão quente e chuvoso, a propagação aumentou.

Controle da doença

Há poucas medidas eficazes de grande eficácia contra a dengue. Com a vacina em número ainda insuficiente, restam medidas da população e dos poderes públicos para conter e destruir criadouros do mosquito Aedes aegypti (que usa a água parada para a reprodução). São medidas como:

  • uso de telas nas janelas e mosquiteiros quando possível;
  • uso de repelentes;
  • manter a caixa d’água bem fechada;
  • amarrar sacos de lixo;
  • limpar terrenos baldios;
  • colocar pneus em lugares cobertos;
  • esvaziar garrafas pet, potes e vasos;
  • colocar areia nos vasos de plantas;
  • limpar bem as calhas;
  • cobrar da prefeitura limpeza de praças e outros locais abertos.
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