Brasil teve 105 ônibus queimados em 2023, maior registro em 4 anos

Com 105 ocorrências em 2023, o número de ônibus de transporte urbano público coletivo queimados no Brasil aumentou 67% em comparação com o ano anterior. Os dados são de um levantamento da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos). Eis a íntegra (PDF – 142 kB).

Os registros de coletivos incendiados estavam em queda desde 2018. O resultado de 2023 interrompeu o ciclo e representou a maior estatística desde 2019.

Já foram 9 ônibus queimados em 2024. Leia abaixo o histórico de casos:

O pico de ônibus queimados se deu em 2014, quando manifestantes depredaram os transportes públicos em protestos contra o governo de Dilma Rousseff (PT). Totalizaram 657 casos.

As ocorrências de 2020 e 2021 naturalmente são mais baixas. A circulação dos veículos foi limitada por causa do isolamento social provocado pela pandemia. 

A NTU considerou ônibus coletivos de transporte público municipal e metropolitano para o levantamento –aqueles utilizados no cotidiano pela população. Apesar do nome, esses veículos costumam ser operados por empresas privadas que têm a concessão do serviço. Veículos usados para turismo e para viagens interestaduais não entram na conta.

NOS ESTADOS

O Rio de Janeiro concentra 43% dos incêndios a coletivos em 2023. Foram 45 no Estado ao longo do ano. A maioria (25) foi destruída durante retaliações do crime organizado em outubro pela morte de um miliciano. Na ocasião, outros 10 veículos de turismo também foram incendiados –esses não entram no levantamento.

O 2º lugar no ranking das unidades da Federação fica com São Paulo, com 15 casos. O valor é 3 vezes menor que o 1º colocado.

O Nordeste também se destaca na lista. O Rio Grande do Norte e a Bahia tiveram 10 registros cada. Houve um aumento de violência em ambas as unidades da Federação ao longo de 2023 por causa do crime organizado.

Minas Gerais (10) e Espírito Santo (6) também estão na contagem de Estados brasileiros com ônibus queimados em 2023. O Sudeste é a única região com casos em sua totalidade. 

De todas as UFs, 16 não registraram ataques a fogo nos transportes coletivos em 2023. 

Ao considerar o acumulado da série histórica, iniciada em 2004, o Sudeste concentra a maior parte das ocorrências. São Paulo lidera (785), seguido pelo Rio (665) e por Minas Gerais (450).

CRIME, SEGURANÇA E ELEIÇÕES

Como o Poder360 mostrou nesta reportagem, a destruição dos ônibus com incêndios é uma questão relacionada à segurança pública do país. Muitos dos casos são ligados a atos do crime organizado. 

Estados que estão entre os mais afetados da lista passaram por momentos de violência em 2023: 

  • Rio Grande do Norte – facções criminosas promoveram ataques no Estado em março. Durou dias em diversas cidades; 
  • Bahia – foi alvo de diversas operações policiais em regiões periféricas em agosto. A polícia fala em combate ao crime organizado;
  • Rio de Janeiro – criminosos queimaram 35 ônibus (25 coletivos públicos e 10 de turismo) depois da prisão de um miliciano em outubro.

Ainda há os impactos políticos da decisão. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa conquistar a confiança da população em relação a suas políticas para segurança, vistas como brandas e coniventes pela oposição. Um aumento no número de ônibus queimados pode pesar negativamente para a gestão petista.

Os candidatos nas eleições municipais–especialmente os que tentam reeleição– terão que se atentar cada vez mais a questões de segurança pública envolvendo suas cidades. Partidos de esquerda, que costumam ter mais força no Nordeste, podem perder prefeituras a depender da situação dos municípios da região.


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