A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) criticou na 3ª feira (18.jun.2024) o debate e a encenação antiaborto realizado no dia anterior na Casa Alta. A Congressista disse que queria o contato da contadora de histórias para pedir para ela fazer uma cena de estupro no plenário. “Quero ver ela encenando a filha, a neta, a mãe, a avó, a esposa de um parlamentar sendo estuprada”, desafiou a congressista.
Na 2ª feira (17.jun), durante debate no Senado sobre o procedimento de assistolia fetal, usado na interrupção da gravidez nos casos de aborto previstos em lei, a contadora de histórias Nyedja Gennari fez uma encenação antiaborto, transmitida ao vivo pela TV Senado (assista abaixo). A cena teve grande repercussão e foi alvo de críticas.
“Eu queria até o telefone, o contato, daquela senhora que esteve aqui ontem, encenando aquilo que nós vimos”, disse Thronicke. “Sabe por quê? Porque eu quero ver ela encenando a filha, a neta, a mãe, a avó, a esposa de um parlamentar sendo estuprada. […] Se encenaram um homicídio aqui ontem, que encenem o estupro”, desafiou.
“Pergunto para vocês: se é a filha de um parlamentar aqui, com 10 anos, com 11 anos, com 18 anos, com 20 anos, que é estuprada, esse parlamentar, diante de um flagrante delito, é obrigado a denunciar. Ele vai fazer o quê? Vai denunciar a filha para 20 anos de cadeia?”, questionou a senadora.
“E se a mulher de um parlamentar for estuprada e engravidar? Se essa mulher engravidar, então este parlamentar vai fazer o quê? Vai levar a termo a gestação. […] Ele vai acompanhar a gravidez decorrente do estupro na esposa dele e vai dar toda a atenção. No dia em que nascer, ele vai escolher se assume essa criança ou se ele a dá para a adoção”, completou.
A senadora citou que o SUS (Sistema Único de Saúde) “banca a vasectomia para quem quiser fazer”, pois “ninguém delibera sobre o corpo dos homens”.
Thronicke concluiu dizendo que é contra o aborto, assim como o Estado brasileiro, que autoriza o procedimento em “3 raras exceções”. São elas: quando a gestação é resultado de um estupro, para salvar a vida da mulher e em gravidez de feto anencefálico.
Assista:
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ENTENDA
O PL (Projeto de Lei) 1904/2024 do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) equipara a pena do aborto depois de 22 semanas de gestação com a de homicídio.
Os congressistas querem dar uma resposta ao STF (Supremo Tribunal Federal). Em 17 de maio, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu uma resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina) que proíbe a realização de assistolia fetal para interrupção de gravidez.
O procedimento é usado nos casos de abortos previstos em lei, como estupro, em gestações com mais de 22 semanas. Se o PL for aprovado, a prática passa a ser proibida, sob pena máxima de 20 anos de prisão.
Assista (1min41s) à encenação antiaborto feita no Plenário do Senado: