O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 6ª feira (12.jul.2024) que apesar de considerar haver uma melhora na economia, as redes sociais dificultariam a percepção da população sobre os resultados por causa de “desinformação”. Segundo ele, o nível de “contaminação” na web é “avassalador”.
“O que vejo em rede social é um negócio assim, avassalador, de desinformação. E isso não está partindo dos meios de comunicação, não está partindo dos jornais, das TVs, das rádios, mas tem uma contaminação hoje”, declarou durante o 19º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) com o tema “As estratégias do governo para a economia”.
Haddad citou alguns dados que, para ele, surpreenderam em relação à economia:
- inflação – desacelerou de 0,46% em maio para 0,21% em junho;
- serviços – setor cresceu 0,3% em abril e ficou estável em maio;
- varejo – vendas do comércio subiram 1,2% em maio em comparação com abril, na série com ajuste sazonal;
- desemprego – a taxa atingiu 7,1% no trimestre encerrado em maio, o menor nível de desocupação para o período desde 2014.
“O Brasil continua crescendo com inflação em queda. Podemos ter um mandato em que o crescimento surpreende, a inflação surpreende positivamente, a geração de empregos surpreende […] se a gente aproveitar a oportunidade que mais uma vez se abre para o Brasil e ter responsabilidades, com os Três Poderes em harmonia”, disse Haddad.
O ministro voltou a dizer que há um problema de comunicação do governo federal com a população em relação à divulgação dos resultados da economia. Segundo ele, criou-se uma percepção “descolada”.
“Temos um desafio comunicacional hoje. Porque quando você pergunta se a pessoa está melhor que no ano passado, que no ano retrasado, ela diz que está. Quando pergunta se a economia está melhor, ela diz que não necessariamente.”
Haddad atribuiu essa percepção a uma polarização mais extrema que o país enfrentaria. Isso viria, segundo ele, em parte das redes sociais.
O ministro Haddad muitas vezes é associado a um aumento na carga tributária por usuários nas redes sociais. O movimento veio especialmente porque ele era a favor da taxação de importações abaixo de US$ 50, as chamadas “comprinhas”.
ABRAJI
O 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo está sendo realizado de 11 a 14 de julho de 2024, em São Paulo, no campus da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), tradicional instituição de ensino superior brasileira fundada em 1951. O evento é uma realização da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), criada em 2002 por cerca de 140 jornalistas.
Apesar de ter se tornado uma importante entidade de representação de jornalistas, a Abraji tem hoje apenas menos de 1.000 associados que pagam em dia a anuidade de R$ 220 para serem membros da associação. A anuidade cobrada de estudantes de jornalismo é de R$ 110. A entidade foi indagada pelo Poder360 sobre o número exato de associados adimplentes (profissionais e estudantes). Respondeu que esse dado não será divulgado.
O congresso da Abraji tem 2 patrocinadores principais, ambos com origem na área de tecnologia: o Google (uma das maiores empresas do planeta em valor de mercado) e a Luminate, uma fundação global que financia vários projetos de jornalismo no mundo e foi criada em 2018 por Pierre Omidyar (um ex-programador de computador que lançou o site de leilões Ebay em 1995 e tornou-se bilionário com o empreendimento).
Outras empresas de mídia patrocinam o evento da Abraji agora em 2024, como o Grupo Globo (da família Marinho e na categoria de 2º doador mais relevante). Logo depois vem o SBT (do empresário e apresentador Silvio Santos). Numa faixa de patrocinadores menos relevantes (por causa do valor doado menor), estão o jornal Folha de S.Paulo e o portal UOL ( ambos do mesmo grupo do PagBank, da família Frias, instituição financeira que controla as maquininhas amarelinhas de cartão), e este jornal digital Poder360.
Nos primeiros anos depois de fundada, a Abraji rejeitava doações de governos. Agora, isso mudou. O congresso de 2024 tem apoio financeiro do governo dos Estados Unidos, por meio da embaixada norte-americana no Brasil e da Usaid (United States Agency for International Development). A Usaid nos anos 1960 e 1970 era criticada pelas esquerdas de países em desenvolvimento, que consideravam essa agência um ator político a favor de governos autoritários na América Latina, inclusive no Brasil. Também está dando apoio ao evento da Abraji o governo da França, por meio da AGF (Agence Française de Dévelopment), uma instituição semelhante à Usaid.