Nova reforma da Previdência é inevitável, diz economista

O economista-chefe da Leme Consultores, José Ronaldo de Souza, 47 anos, avalia que o Brasil terá de promover uma nova reforma da Previdência. Na sua visão, o descompasso dos gastos públicos e as projeções previdenciárias justificam as mudanças.

“É quase inevitável que a gente realmente tenha novas reformas. Particularmente, aumentando em termos reais o salário mínimo e o piso da Previdência estando –como está hoje– indexado ao salário mínimo, essa necessidade vai acontecer de forma mais rápida. Por quê? Porque esse aumento de gasto está acelerando de forma mais rápida”, disse ao Poder360.

Assista (1min22s):

Souza afirma que o Brasil passou da fase de bônus demográfico –quando a população economicamente ativa cresce mais do que a população em geral– e isso exige uma maior produtividade. Há efeitos sobre a Previdência Social, na sua visão.

“A gente está aumentando o que a gente chama de razão de dependência, que é aumentando o número de pessoas que já não estão mais no mercado de trabalho em comparação à população total. Esse aumento da razão de dependência gera problemas não só previdenciários, mas também é o fim desse chamado bônus demográfico”, declarou.

PRODUTIVIDADE

Para Souza, o país precisa “produzir mais com os mesmos recursos” para ter um crescimento consistente. “É um desafio que engloba diversas áreas, diversas questões para que a gente consiga realmente dar esse salto”, afirma.

O assunto é tema do livro “‘O Desafio da Produtividade: como tirar o Brasil da armadilha da renda média” (editora Lux), organizado por José Ronaldo de Souza e pelo economista Fabio Giambiagi. A obra foi lançada em junho de 2024.

Souza diz que a saída do Brasil da renda média para a renda alta é difícil e que é necessário ter “foco grande” na produtividade.

“Os ganhos que são necessários para a gente se tornar realmente um país rico eles são aqueles ganhos de produtividade que são mais difíceis. A gente já tinha feito a industrialização do país, então aqueles ganhos fáceis tinham sido obtidos. E agora, para que a gente migre para um nível alto de renda, necessariamente precisamos ter ganhos consistentes de produtividade por anos seguidos”, afirma.

Assista à entrevista (22min32s):

Eis outros pontos da entrevista:

  • mudança de foco – “Na década de 1960 e 1970, a gente não fez investimentos grandes em educação da forma como foi feito na Coreia do Sul, por exemplo. A gente focou mais o investimento em máquinas, equipamentos, sem focar nesse ganho de capital humano”;
  • carência em infraestrutura – Ficamos com o caminhão parado muito tempo, há custos elevadíssimos de transporte. Há o custo da energia no consumidor final, por conta da quantidade de encargos que a gente tem”;
  • abertura da economia – “Tem que trabalhar a abertura da economia e sair daquela questão só de protecionismo. Às vezes, a gente também sobretaxa a importação de equipamentos que podem trazer tecnologia e aumentar a produtividade;
  • inovação tecnológica – “Os investimentos em inovação tecnológica no Brasil são muito dispersos. Muitas vezes, esses investimentos são feitos em pequenos centros de pesquisa, com dispersão muito grande dos gastos, aí você não consegue ter um avanço significativo”;
  • inteligência artificial – A inteligência artificial pode melhorar a produtividade. Isso é fato, mas em qualquer área, em qualquer tipo de tecnologia, a gente sempre tem que a produtividade vai ser melhor aproveitada no país quanto melhor for a formação dessa mão de obra”;
  • rombo das contas – “Temos um deficit público já há vários anos e uma dívida pública em elevação. Então, a gente está realmente em um momento bastante complicado, em que há vários riscos relacionados. Não à toa, estamos vendo essa instabilidade recente: mercado de câmbio, e a instabilidade no mercado de câmbio pode gerar inflação”.

QUEM É JOSÉ RONALDO DE SOUZA

José Ronaldo de Castro Souza Jr. nasceu em Barbacena, Minas Gerais. Tem graduação em economia pela Universidade Federal de Viçosa e mestrado e doutorado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Trabalhou por 20 Anos no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), onde foi diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas.

Além de economista-chefe e sócio da Leme Consultores, é pesquisador de pós-doutorado na FGV Direito Rio (Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas) e professor de economia do Ibmec-RJ (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais).


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