Níveis das hidrelétricas podem chegar a 36% até julho, alerta ONS

Os níveis das principais hidrelétricas do país podem chegar à metade em abril, no final do período seco, e atingir 36,1% em julho. A projeção é do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para o sistema Sudeste/Centro-Oeste, que reúne 70% dos reservatórios do país. A estimativa considera um cenário pessimista na previsão de chuvas, provocado pelo El Niño, e outros fatores, como a baixa afluência dos rios.

O volume médio atual dos reservatórios do sistema está em 62,4%. É um nível bem menor que os 76,9% registrado em fevereiro de 2023. Para os próximos meses, o ONS trabalha com 2 cenários. O pessimista, com queda nos níveis a cada mês até junho, e o otimista, que projeta um volume médio no Sudeste/Centro-Oeste de 73,1%.

Ao Poder360, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, explicou que a diferença nas projeções se dá porque as previsões de chuvas para períodos acima de 1 mês variam muito de acordo com o método. É consenso em todas as metodologias que o El Niño deve perder força a partir da chegada do outono, mas ainda é difícil mensurar o quanto.

“Os níveis dos reservatórios estão adequados ao período do ano e são positivos. O que o ONS vem alertando é para o fato de que o período tipicamente úmido em curso está apresentando afluência muito abaixo da média histórica, ao contrário do período úmido de 2022 e 2023, que foi muito bom”, afirmou.

Se confirmada a pior projeção para o pico da fase seca, o nível dos reservatórios no mês de julho será o 5º pior no sistema neste século. Só ficaria atrás dos anos de grave crise hídrica: 2001 (ano do apagão), 2014, 2018 e 2021. Em julho do ano passado, as hidrelétricas operavam no volume de 84%.

As projeções foram apresentadas na última reunião do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), realizada mensalmente. Para além da previsão meteorológica, as estimativas estão ligadas a vários fatores, sendo o mais relevante deles a afluência, ou seja, a vazão dos rios que chegam às hidrelétricas.

A atual vazão dos rios no sistema, medida pelo indicador chamado ENA (Energia Natural Afluente), está em 53% da MLT (Média de Longo Termo), que considera toda a média histórica dos cursos d’água. Esse é o menor percentual para fevereiro desde 2014. Nem na escassez hídrica de 2021 a afluência estava tão baixa em pleno fevereiro (era de 68%).

O problema também é visto em outros sistemas. Em janeiro, a afluência dos rios que chegam às hidrelétricas ficou em 59% da média histórica no SIN (Sistema Interligado Nacional) como um todo. Foi o pior janeiro em 94 anos.

A baixa vazão dos rios fez os níveis dos reservatórios caírem em todos os sistemas do SIN neste ano. As maiores foram registradas nas hidrelétricas do Norte (cujo volume estava em 96,8% em fevereiro de 2023 e está agora em 64,6%) e no Nordeste (queda de 85,3% para 60,7%).

Socorro de térmicas

Diante do cenário, o ONS estima que será preciso ligar mais usinas térmicas para garantir o pleno atendimento dos consumidores, em especial em momentos de elevada demanda e baixa geração eólica. O operador já tem acionado essas usinas em dias de alto consumo.

Ciocchi afirma que se necessário, o despacho “será feito prioritariamente nos horários de maior demanda da sociedade, buscando a confiabilidade necessária e segurança com o menor custo possível”. O país também seguirá importando energia da Argentina e do Uruguai.

Ainda não há estimativa do impacto dessas medidas na conta de luz dos brasileiros. Segundo o ONS, não é esperado grande reflexo tarifário, uma vez que as térmicas estão sendo utilizadas apenas nos picos de consumo.

Apesar dos cenários projetados, Ciocchi afasta o risco de apagões. Segundo ele, não há possibilidade de falta de energia no país diante dos cenários de demanda e oferta de eletricidade.  

Na última 4ª feira (21.fev.2024), o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) comentou sobre a situação e disse que ela liga um alerta amarelo, uma vez que os reservatórios são os “pulmões do setor elétrico” juntamente das usinas térmicas.

Nos últimos anos, o país construiu poucas hidrelétricas, e todas elas a fio d’água, que não possuem reservatórios. Essa política visando um menor impacto ambiental torna usinas gigantescas como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio reféns da afluência natural dos rios, chegando a operar em parte do ano com cerca de 10% da capacidade.

Silveira destacou que fontes como eólica e solar, embora importantes na transição energética, não garantem a segurança de fornecimento. O país tem expandido a inserção dessas fontes intermitentes na matriz elétrica, no entanto, essa presença cada vez maior é um risco para a confiabilidade do sistema uma vez que elas não são constantes.

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